Os Guerreiros do Lins

Em 12 de março, Becos e Vielas Produções adentrou a comunidade Nossa Senhora da Guia, no Complexo do Lins, Grande Méier, para conhecer o trabalho do Grupo Guerreiro da Guia. O Grupo foi formado em 1992, para dar uma outra opção aos jovens da comunidade, que eram facilmente aliciados pelo tráfico de drogas. O trabalho é anterior ao Afroreggae, unindo os mesmos ritmos que os do grupo de Vigário Geral (o samba e o reggae), são parceiros deles, mas não alcançaram a mesma projeção. Numa praça da comunidade, encontramos Adailton, líder do grupo, coordenando o ritmo de cerca de trinta jovens percussionistas e circundado por diversos membros da comunidade. A maioria, mães dos jovens músicos. Nosso grupo foi recebido com toda a fé. Adailton passou o comando dos instrumentistas para um parceiro seu e sentou-se com a equipe para conversar sobre o seu trabalho. Contou o início de tudo e a sua perseverança e resistência, já que o grupo não conta com apoio da iniciativa privada ou do governo e localiza-se numa área absolutamente carente de visibilidade e de investimento social, que é o Grande Méier. Um rapaz passa de bicicleta, fazendo alguma entrega, e Adailton imediatamente o convida para aproximar-se. Trata-se de um antigo integrante do grupo, que deixou os ensaios para trabalhar e sustentar a família (realidade esta que encontramos em todos os grupos visitados). O rapaz cantou para a gente uma composição de Adailton, imensamente poética e bem ritmada, canção de protesto, fazendo referência a um passado negro de escravidão que não se separa de um presente de marginalização e preconceito. Adailton lembra que o nome da serra sobre a nossa cabeça é Serra dos Pretos Forros, local em que se abrigavam negros alforriados no passado e atualmente ocupada por cidadãos com pouco ou nenhum capital real e simbólico. Adailton contou também sobre a sua amizade com Mr. Catra, que nasceu no estúdio do DJ Marlboro, logo ali do lado. Catra gravou músicas dos Guerreiros, residiu na comunidade e atualmente é um padrinho do trabalho, convidando jovens para participar de shows com ele, contribuindo com a compra de instrumentos. O coordenador geral do trabalho chama-se Walmir Aragão e o grupo realiza duas festas anualmente, na comunidade, em 13 de maio (Abolição da Escravatura) e 20 de novembro (Consciência Negra). Um outro aspecto que é bonito de se destacar é como os jovens multiplicam sua experiência, ensinando as crianças, que se amontoam ao redor dos percussionistas, a tocar um instrumento.