O Brasil acompanhou pela televisão uma verdadeira covardia ocorrida contra três adolescentes no Sumaré: dois policiais armados os abordaram, levaram para o referido lugar e provocaram verdadeiro terror, matando um deles e ferindo gravemente outro, que só não morreu por sorte. O terceiro escapou porque disse aos militares que conhecia uma determinada pessoa.
A Agência de Notícias das Favelas teve oportunidade de conversar com a tia e a prima do menino que faleceu. Elas demonstraram muita tristeza e decepção com a nossa segurança e disseram que, por medo, acabaram se mudando do local onde moravam.
A tia contou que conseguiu se encontrar com o sobrevivente que foi gravemente ferido e que só sobreviveu porque se fingiu de morto. Ele foi com a família de Matheus, mas, segundo ela, chorava muito dizendo: “Tia, pelo amor de Deus, eu vou sair dessa!”
Relata ainda que, segundo o que soube, os policiais chegaram a chutá-lo para se certificarem de que o fato havia sido realmente consumado. Ela deixa claro que o menor só sobreviveu porque Deus foi maravilhoso.
Em sua opinião, os policiais não se arrependeram e estão acostumados a fazer isso, pois nas próprias filmagens mostradas nos noticiários os militares dizem que vão bater uma meta, e a pergunta que fica é: que meta é essa? A família gostaria de uma opinião do Estado, já que não foi procurada por nenhuma autoridade para receber, sequer, um pedido de desculpas.
A prima, quando entrevistada, usava uma blusa cuja frente tinha a foto do menor e na parte de trás estava escrita “Estado assassino, marginais fardados. Até quando vai continuar essa palhaçada?” Ela disse que a parte da frente é uma homenagem e que a de trás mostra um pouco da enorme dor que todos estão sentindo.
De acordo com seus relatos, Matheus era um menino muito família, era uma criança, era bastante ingênuo, e para todos foi uma perda muito grande. O que os policiais fizeram foi uma atrocidade.
“Eles vestem a farda, deveria ser pra proteger. Eles não deveriam fazer o que eles fizeram, eles tiraram uma vida e provavelmente muitas outras, eu só não posso afirmar, mas tiraram a vida de um inocente, de uma criança de quatorze anos que tinha sonhos, que estava estudando, que nunca tinha repetido ano, tava no colégio, era matriculado, não faltava aula, tinha o horário dele pra chegar em casa. Eles tiraram uma vida, entendeu?” Nos conta sua prima emocionada. Ela ainda informa que quando o pegaram, não tinha nada em mãos.
Vinícius Lima Vieira e Fábio Magalhães Ferreira, perante a auditoria militar respondem pelos seguintes crimes:
– Sequestro qualificado pelo resultado, quando resulta à vítima, em razão de maus-tratos ou da natureza da detenção, grave sofrimento físico ou moral (artigo 225, parágrafo segundo do Código Penal Militar), com as circunstancias agravantes previstas no artigo 70, inciso II, alíneas g e l), quais sejam: com abuso de poder ou violação de dever inerente a cargo, ofício ou função (alínea g) e estando de serviço (alínea l).
– Ameaça (artigo 223), com as agravantes previstas no artigo 70, inciso II, alíneas b, g, e l (todos do Código Penal Militar): para facilitar ou assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime (alínea b), com abuso de poder ou violação de dever inerente a cargo, ofício ou função (alínea g) e estando de serviço (alínea l).
Até o presente momento, foram ouvidas na Justiça Militar as testemunhas de defesa e não há data prevista para o tribunal do júri. O que se espera é que seja mostrado que não há ninguém que desrespeite a lei e saia impune, principalmente depois de uma atrocidade como essa.