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Foto: André Fernandes/ANF

Depois de várias reuniões e revisões devido aos inúmeros erros cometidos pelo Governo, o Poder Público acaba de criar uma nova UPP.  Isso mesmo, com essa nomenclatura. É a UNIDADE de POTENCIALIZAR POBRES.  A hostilidade ao antigo projeto fez, de forma emergencial, que tivesse a criação dessa mais nova forma de sentido ao polêmico e falido projeto do Estado, que reconheceu os seus erros e decidiu então dar logo vida a essa nova Unidade.

Então decidimos fazer uma análise do que é esse novo momento que o Governo vai colocar em ação nas Favelas e periferias do Estado.

Em primeiro lugar, teria a criação de um fórum permanente formado por estudiosos e sábios populares e com gestão dos moradores locais, para através deles indicar as reais necessidades de cada local estabelecido. Os envolvidos são suprapartidários, apartidários, sem ligação com ONGs, sem interesses pessoais, só o coletivo, pois nesses encontros do Fórum seriam definidas as ações concretas a serem feitas.

Em segundo lugar, com a apresentação das propostas, a divisão de tarefas e afazeres (só uma ressalva, os envolvidos são todos remunerados pelo Estado) e nesse mesmo ponto começaria uma nova fase na história das Favelas, só que dessa vez com uma iniciativa correta e solida, trazendo uma luz de esperança para muitos, pois os moradores que receberiam uma injeção de ânimo e mais integração à cidade. Os moradores que se envolverem, tornariam-se agentes transformadores locais do seu beco, da sua viela, sua rua, e, dessa forma, ajudando sua localidade antes de qualquer coisa, deixando-se de se preocupar com ações macro e atingindo “In Loco”, onde ele vive, onde tem amizades desde a infância, sendo o responsável por contagiar outros e outros.

Num terceiro momento, seria a direta atuação das esferas públicas depois das consultas realizadas anteriormente, teria a função de executar o que foi pesquisado, instalariam as que eu chamaria de “BASES DO CONHECIMENTO”, locais de acesso às informações das mais diversas possíveis para o crescimento dos moradores. Esses locais seriam dotados de livros e relatos da história local, computadores de acesso à internet, impressão de documento e acesso as correspondências de todos. Isso seria legal se fosse mantido com o dinheiro dos moradores para se tivesse um sentimento de pertencimento. Deveria ter umas 10 bases dessas espalhadas em locais estratégicos da Favela, de fácil acesso a todos, e que fosse possível aos idosos terem total mobilidade para se chegar neles.

Em uma quarta fase, teria a disseminação e incentivo à cultura local, planejamento de eventos semanais com os articuladores que já fazem isso no território, trazendo e resgatando os valores culturais pelos próprios moradores e com isso fortaleceria o comercio local, trazendo renda aos que sempre viveram da Favela. Os eventos passariam a ser feito pela própria Favela para a Favela, sem intermediários, sem lacunas ou brechas. Seria também uma grande campanha de fortalecimento pessoal de cada morador, tornando-o habilitado a interagir mais com o seu local de origem, gastando e consumindo no local, valorizando também ainda mais os que se dispusessem a ensinar práticas de administração financeira, economia doméstica, meios de geração de renda, mesmo de forma autônoma. Quanto mais pessoas fossem habilitadas, mais moradores seriam POTENCIALIZADOS.

Seríamos induzidos a aprender a nos POTENCIALIZARMOS uns aos outros, coisa que já é feita há anos pelos que governam esse mundo, eles são ensinados desde pequenos, em suas casas, nas escolas e faculdades a serem potencializadores uns dos outros, o que até hoje nos foi negado. Foi nos tirado o direito de sermos seres críticos, isso tem sido o grande X da questão, quando não somos induzidos a pensar nos outros, logo somos subtraídos de tudo que nos servem para sobrevivência. Direitos Igualitários, escolas que funcionem bem, que tenham professores, que a segurança realmente seja feita por agentes públicos comprometidos com a sociedade local e não corruptos alheios e sedentos de sangue. Gestores locais integros, e não corruptíveis, e que não se deixem seduzir com migalhas para servirem de currais eleitorais. Quando houver um entendimento de que a Favela pode se auto gerir, e não apenas ser um local MARGINALIZADO, um local visto apenas com o olhar sombrio e obscuro, pode ter certeza que estaremos no entendimento da POTENCIALIZAÇÃO.

Devido a essas poucas observações que consegui enumerar, e faltam mais um punhado, proponho e sonho com a criação desse novo projeto de governo, e também a mudança da nomenclatura da antiga Unidade de Polícia Pacificadora – UPP, para UNIDADE DE POTENCIALIZAR POBRES.  Quem sabe assim haja um despertar por parte dos críticos sagazes desse genocídio que está havendo, em querer ajudar a nos potencializar ao invés de nos ver mortos como mais um número nas estatísticas de jornais.

Esse texto é um sonho, um desejo de quem mora aqui em uma enorme favela, que hoje é militarizada por um projeto falido e que tem demonstrado inúmeras falhas, que não tem nenhum tipo de diálogo, que hoje nos vemos aprisionados sem saber o que fazer, sem ninguém para nos defender… Então de forma UTÓPICA pensei nesse texto e gostaria que um dia isso se tornasse verdade, que um dia pudéssemos ter a oportunidade de sermos POTENCIALIZADOS AO INVES DE MILITARIZADOS.

Cleber Araújo, morador do Complexo do Alemão.