A MORTE DE MARCO AURÉLIO

 

O Marco Aurélio morreu, falou um senhor bem idoso ao tomar um cafezinho na birosca da favela. Ninguém se tocou. Mas quando um adolescente gritou:

– Lacraia morreu!

Pronto. Estava formado o reboliço. Na favela é assim, se chamar pelo nome de batismo ninguém atende.

Lembro-me do dia em que nos encontramos em um dos becos da favela ( Jacarezinho ). Saudou-me, logo em seguida, me pediu para participar num dos projetos do Centro cultural do Jacarezinho, instituição que eu acabava de fundar na comunidade. Respondi-lhe que seria um grande prazer tê-lo conosco. Ele sorriu num misto de alegria e espanto, pois sofria muita discriminação.

Lacraia, além de simples, esbanjava alegria e solidariedade. Sempre prestativo. Figura de destaque na Escola de Samba Unidos do Jacarezinho.

No momento em que o favelão ocupava todos os dias, os noticiários policiais, Lacraia mostrava o outro lado da nossa realidade. E o fez muito bem ao lado de Mc Serginho, montaram na Éguinha Pocotó e levaram o Jacarezinho para além das fronteiras.

No projeto que desenvolvíamos, toda semana, ele e a Regina minha esposa, preparavam o café da manhã da criançada. Que algazarra! Muito bom!

Fica agora a saudade e uma grande expectativa, pois eu pedi um “favorzão” ao amigo Lacraia. Eu lhe disse:

– Lacraia, quando você chegar lá em cima, peça ao Criador, é – o todo poderoso, que nos mande um grande “Bonde” com destino à Cidadania Plena, para que o mesmo possa conduzir todos os negros e pobres favelados.

Agora sim, você pode ir. Vai depressa! Vai Lacraia! Vai Lacraia!

Rumba Gabriel

Fundador e coordenador do MPF- Movimento Popular de Favelas