A menos de uma semana dos Jogos Olímpicos, com os olhos do mundo voltados para o Rio de Janeiro, a grande pergunta que se faz é: valeu mesmo a pena? Porque as transformações do Rio, que tornaram possível a realização das Olimpíadas, começaram dez anos atrás, com a instalação das chamadas UPPs. Começava ali o projeto de segregação oficial patrocinado pelos governantes.
É inexplicável que a Prefeitura e o Estado não tenham criado um programa de incentivo e valorização do esporte nas comunidades do Rio de Janeiro. Mas, por outro lado, o poder público aperfeiçoou as UPPs, criadas para militarizar o espaço com a desculpa de conter o tráfico e impedir entrada de armas e drogas pesadas.
Agora, fica claro que tudo isto era apenas uma tática para colocar em prática os projetos de remoção de favelas. Milhares de famílias foram removidas direta e indiretamente por causa dos Jogos Olímpicos e sem nenhuma contrapartida que contemplassem os moradores retirados de suas casas injustamente. Além disto, a impressão que temos neste ano olímpico é que a Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro quer disputar as provas de tiro ao alvo. Os exercícios deles são com os moradores inocentes das favelas. Já passou de dezenas o número de inocentes assassinados.
Outro sinal de segregação com os moradores de periferia e favela foi a extinção de várias linhas de ônibus, que iam da Zona Norte ao Leblon. A linha 474 é um exemplo disso: ela, que ia do Jacaré ao Jardim de Allah no Leblon, foi encurtada para ter como ponto final o shopping Rio Sul, dificultando o acesso dos moradores do subúrbio às praias mais badaladas da Zona Sul. Favelado suburbano só pode frequentar as Praia do Flamengo e Botafogo – quiçá, Urca, no máximo! Com o preço abusivo da passagem e várias barreiras policiais, o governo municipal conseguiu o que queria: clarear a frequência de praias da Zona Sul. Ou seja, este é mais um golpe frio e calculista da Prefeitura do Rio para afastar o povo das favelas das provas olímpicas que teoricamente teriam a presença do povo brasileiro, já que as arenas da Praia de Copacabana têm entrada franca.
Existe ainda uma determinação da Secretaria Municipal de Saúde para priorizar o atendimento a estrangeiros nos hospitais públicos. A Linha 4 do Metrô só vai atender aos portadores de ingressos para as competições na Barra. Nos Boulevards Olímpicos da Praça Mauá e Praça 15, ambulantes são expulsos do local na base do cassetete por agentes da Secretaria Especial de Ordem Pública, só confirmando a tendência do governo em militarizar quase todas as secretarias. Ambulante vendendo a preço popular? Não pode. Mas podem os gourmetizados foodtrucks extorquir o público com sanduíches ao custo de R$20 ou o garrafas d’água que chega m a surreais R$5.
Definitivamente, os Jogos Olímpicos não são para o povo do Rio de Janeiro.