A MAQUIAGEM FEITA PARA OS JOGOS PANAMERICANOS

O dia de ontem foi diferente para o Rio de Janeiro. De um lado a maravilha de uma bela festa para o mundo ver, de outro aqueles que sofrem com a falta de trabalho que acaba gerando mais violência, pois a população não tendo dinheiro para comer, se movimentar, se comunicar, ou até ter momentos de prazer, acaba se desesperando… Como diria a música: “a gente não quer só comida, a gente quer saída para qualquer parte!”

Eram dez horas da manhã quando cheguei à Central do Brasil de metrô, e fiquei pasmo com o quadro: todos os camelôs haviam sido retirados para a maquiagem do PAN. Como se não bastasse, para garantir a “ordem pública”, agentes de segurança do metrô tentavam impedir que moradores de rua ficassem nas imediações das saídas da estação. Me aproximei quando o agente dizia para um morador de rua: “Você pode ficar só lá do outro lado da rua!”

Órdem pública

O PAN dos pobres

Não foi preciso andar muito para perceber outra dificuldade que teremos em nossa cidade, que já tem seu trânsito caótico. Um ônibus estava parado, quando vi que o motorista estava dando o troco para o passageiro que acabara de entrar. Entrei no onibus, dei dois reais, e passei pela roleta, que não tinha mais trocador. Pensei: o que vai acontecer com todos esses trocadores? Ficarão desempregados? Aumentará mais o desemprego? E o trânsito? Como ficará se o motorista tiver que ficar dando troco para todos os que entram? E no horário do “rush” então? Enfim, perguntas que todos deveriam fazer para as empresas, e para a prefeitura.

Como será quando não houver mais trocador?

Cheguei antes do horário marcado para o início do ato convocado pelos movimentos populares contra a violência do PAN, que seria realizado em frente ao Centro Admnistrativo São Sebastião, de onde despacha o prefeito Cesar Maia. Já se encontrava no local um grupo de pessoas que tinha vindo de São Paulo.

Centro Administrativo São Sebastião

Concentração dos movimentos populares

O ato contou com a participação de diversas organizações. Entre elas a rede de movimentos contra a violência, que vem denunciando o caveirão, o veículo blindado da PM que entra nas favelas com um auto-falante ligado com a frase:”eu vim buscar sua alma!”

http://www.redecontraaviolencia.org.br/

Os ativistas comemoravam a quantidade de pessoas no ato, pois o prefeito Cesar Maia havia afirmado que não passaria de trezentas pessoas, quando segundo a organização do ato, o número foi superior a mil pessoas presentes. Sete ônibus com pessoas de cinco estados foram o reforço para a manifestação.

Mais de mil manifestantes se concentravam em frente à prefeitura

Com a prefeitura fechada, já que era ponto facultativo, os guardas municipais aguardavam o pior, que não aconteceu!

Com criatividade cada movimento se manifestou da sua maneira.

O MST se manifestou com cruzes onde estavam escritos os nomes de trabalhadores mortos pela violência.

Outro movimento colocou a foto do presidente Lula em um caixão.

Não precisa de legenda…

Quando o ato já estava lotado, o microfone passava nas mãos dos que estavam na organização. Cyro Garcia do PSTU aproveitou para dar seu recado contra a lei anti-greve: “Se Lula não tivesse feito muita greve, não seria presidente!” Já o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL) denunciou: “Tive informações concretas que no complexo do alemão, onde a população é de duzentas mil pessoas, só existe uma escola, e nenhum hospital do estado!”

Já eram quase meio dia, quando manifestantes começaram a gritar: “se o ato é contra o PAN vamos pro Maracanã!”. Foi quando membros da oganização, imediatamente disseram que iriam em direção a Candelária. Afirmação suficiente para deixar descontente vários movimentos populares, que diferente dos partidos que estavam na manifestação, pretendiam seguir para o Maracanã. Nesse momento Bruno Alves, do coletivo Luta Armada, pega o microfone e comunica a decisão de sua entidade: “Vamos seguir para o Maracanã!” Ato suficiente para ser impedido de cantar a música de seu grupo, que já estava na programação.

A fala do pessoal do Luta Armada

Infelizmente o ato não manteve sua unidade. A confusão se instaurou quando militantes do PSTU se “estranharam” com militantes de movimentos sociais contrários a idéia de que teriam que ir para a Candelária, já que a abertura do jogos aconteceria no Maracanã.

Após o “estranhamento” um grupo foi para a Candelária e outro em direção ao Maracanã. O grupo que foi para o Maracanã chegou lá pacifícamente. Ao chegarem juntaram-se à um grupo de índios que estavam também fazendo uma manifestação. Com uma média de trezentas pessoas, a manifestação deu uma volta no estádio do Maracanã gritando: “pra gente rica, o PAN é esporte, pra favelado é porrada e morte!”

O fato é que com o ingresso para a abertura dos jogos panamericanos custando cinquenta reais o mais barato, não é dificil concluir que a festa de abertura não foi para os pobres. Por isso Lula foi vaiado e Cesar Maia ovacionado. Entende-se que a popularidade do Presidente pode estar em baixa, mas só mesmo sendo um evento para uma classe que não os pobres, que o prefeito do Rio poderia ser aplaudido como foi, por quem foi.

“Pra gente rica, o PAN é esporte, pra favelado é porrada e morte!”