Eram dez horas da manhã quando cheguei à Central do Brasil de metrô, e fiquei pasmo com o quadro: todos os camelôs haviam sido retirados para a maquiagem do PAN. Como se não bastasse, para garantir a “ordem pública”, agentes de segurança do metrô tentavam impedir que moradores de rua ficassem nas imediações das saídas da estação. Me aproximei quando o agente dizia para um morador de rua: “Você pode ficar só lá do outro lado da rua!”
O PAN dos pobres
Não foi preciso andar muito para perceber outra dificuldade que teremos em nossa cidade, que já tem seu trânsito caótico. Um ônibus estava parado, quando vi que o motorista estava dando o troco para o passageiro que acabara de entrar. Entrei no onibus, dei dois reais, e passei pela roleta, que não tinha mais trocador. Pensei: o que vai acontecer com todos esses trocadores? Ficarão desempregados? Aumentará mais o desemprego? E o trânsito? Como ficará se o motorista tiver que ficar dando troco para todos os que entram? E no horário do “rush” então? Enfim, perguntas que todos deveriam fazer para as empresas, e para a prefeitura.
Como será quando não houver mais trocador?
Cheguei antes do horário marcado para o início do ato convocado pelos movimentos populares contra a violência do PAN, que seria realizado em frente ao Centro Admnistrativo São Sebastião, de onde despacha o prefeito Cesar Maia. Já se encontrava no local um grupo de pessoas que tinha vindo de São Paulo.
Centro Administrativo São Sebastião
Concentração dos movimentos populares
O ato contou com a participação de diversas organizações. Entre elas a rede de movimentos contra a violência, que vem denunciando o caveirão, o veículo blindado da PM que entra nas favelas com um auto-falante ligado com a frase:”eu vim buscar sua alma!”
http://www.redecontraaviolencia.org.br/
Os ativistas comemoravam a quantidade de pessoas no ato, pois o prefeito Cesar Maia havia afirmado que não passaria de trezentas pessoas, quando segundo a organização do ato, o número foi superior a mil pessoas presentes. Sete ônibus com pessoas de cinco estados foram o reforço para a manifestação.
Mais de mil manifestantes se concentravam em frente à prefeitura
Com a prefeitura fechada, já que era ponto facultativo, os guardas municipais aguardavam o pior, que não aconteceu!
Com criatividade cada movimento se manifestou da sua maneira.
O MST se manifestou com cruzes onde estavam escritos os nomes de trabalhadores mortos pela violência.
Outro movimento colocou a foto do presidente Lula em um caixão.
Não precisa de legenda…
Quando o ato já estava lotado, o microfone passava nas mãos dos que estavam na organização. Cyro Garcia do PSTU aproveitou para dar seu recado contra a lei anti-greve: “Se Lula não tivesse feito muita greve, não seria presidente!” Já o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL) denunciou: “Tive informações concretas que no complexo do alemão, onde a população é de duzentas mil pessoas, só existe uma escola, e nenhum hospital do estado!”
A fala do pessoal do Luta Armada
Infelizmente o ato não manteve sua unidade. A confusão se instaurou quando militantes do PSTU se “estranharam” com militantes de movimentos sociais contrários a idéia de que teriam que ir para a Candelária, já que a abertura do jogos aconteceria no Maracanã.
Após o “estranhamento” um grupo foi para a Candelária e outro em direção ao Maracanã. O grupo que foi para o Maracanã chegou lá pacifícamente. Ao chegarem juntaram-se à um grupo de índios que estavam também fazendo uma manifestação. Com uma média de trezentas pessoas, a manifestação deu uma volta no estádio do Maracanã gritando: “pra gente rica, o PAN é esporte, pra favelado é porrada e morte!”
O fato é que com o ingresso para a abertura dos jogos panamericanos custando cinquenta reais o mais barato, não é dificil concluir que a festa de abertura não foi para os pobres. Por isso Lula foi vaiado e Cesar Maia ovacionado. Entende-se que a popularidade do Presidente pode estar em baixa, mas só mesmo sendo um evento para uma classe que não os pobres, que o prefeito do Rio poderia ser aplaudido como foi, por quem foi.