As UPPs faliram. A Segurança Pública agoniza em praça pública. Os tiroteios são muito mais recorrentes do que divulga nossa seletiva mídia. Balas perdidas, inocentes morrendo estupidamente, sobram vítimas para todos os lados envolvidos no conflito. As operações policiais nos horários de entrada e saída das escolas seguem com naturalidade.
As UPPs faliram de forma ostensiva. Começaram com fulgurante propaganda, avançaram com mais propaganda fulgurante, mas os equívocos se repetiram, escamoteados pela mesma propaganda, até que não foi mais possível esconder. Hoje, o fracasso está aí – gritante, alarmante, fulgurante. A guerra às drogas, talvez, seja o nosso Vietnã: a guerra estúpida, improdutiva, sanguinolenta, ineficaz.
O fracasso fulgurante, porém, não gerou um debate urgente. Não gerou autocrítica. Não gerou revisão, replanejamento, prestação de contas à sociedade. Nada. Estamos aguardando, atônitos, pasmos, inseguros. A metrópole agoniza.
O governo do Estado do Rio de Janeiro, além de se mostrar incapaz de repensar, de avaliar os próprios equívocos e apontar novos caminhos, faliu. Caiu falido subitamente diante de nossos olhos. O governo que dizia somar forças das três esferas, agora subtrai salários de todo o funcionalismo.
Como cereja irônica deste bizarro bolo, tivemos nesta semana o vandalismo explícito das forças anti-vandalismo. Os repressores raivosos das manifestações populares fizeram a sua raivosa manifestação e não foram reprimidos. É isso. O destino é irônico, sarcástico e, quando quer, deixa nu os incoerentes.
É preciso repensar tudo. Mas o governo está calado, riscando nas planilhas a sobrevivência econômica da população. Só sabe fazer isso: cortar na carne alheia. Tenho a impressão de que somos governados por pessoas sem imaginação, sem sensibilidade, sem criatividade e sem percepção do entorno. Somos também responsáveis por isso, porque delegamos apaticamente toda a nossa organização social.
Com um quadro destes, o que esperaríamos de nossos representantes? Que talvez se reunissem e debatessem. Que promovessem um diálogo franco e aberto com a sociedade para que encontrássemos uma saída nova, ousada, inventiva ou até antiga, óbvia, mas inexplorada.
A violência faliu. A brutalidade faliu. A repressão faliu. Mas, pasmem: o governo segue apostando na violência, na brutalidade, na repressão. A guerra faliu, mas a guerra segue. Isso, sim, é círculo vicioso. As UPPs faliram. E agora? Por parte do Governo do Estado, não temos resposta. A resposta que conseguimos captar em meio ao silêncio é aterradora e só comprova que somos, de fato, governados pela ignorância altiva e prepotente.
Eu me pergunto: como? Como, neste estado de coisas acima descrito, o governo quer prescindir da cultura e da arte? Como?! Imbecis! Retrógrados! Estúpidos! Extinguir uma Secretaria de Cultura em um momento drástico como este, quando a cultura deveria ser empoderada, fortalecida, posta no eixo central de reinvenção urbana, de fortalecimento da educação, de campo de oportunidade e estímulo vital para a juventude… É muita ignorância e cegueira.
Cultura, Pezão! Cultura, arte, educação, esporte! Tiro, porrada e bomba só nos trouxeram até este fracasso retumbante! Coloque a Secretaria de Cultura no centro do Gabinete da Crise. E também a Secretaria de Educação. E a Secretaria de Esportes! Estas não deveriam ser feudos de filhotes do Senhor dos Anéis e empreiteiros-amigos, mas algo efetivo e conectado à vida das comunidades.
As UPPs faliram! Todo o poder às escolas, à arte, à cultura e aos esportes!