Dia 12 de novembro é o Dia Mundial da Cultura Hip Hop. A data é atribuída à fundação da Zulu Nation, organização encabeçada por Afrika Bambaataa, um dos pais do gênero. DJ Kool Erc e Gill Scott-Heron têm seus DNAs disseminados neste monstro – monstro este que influencia grande parte da produção de música, moda e cinema; monstro também por ter sido gerado em um contexto de grande violência e por pessoas violentas. Estão aí dois pontos nos quais os instintos mais primitivos dos seres humanos se manifestam: arte e violência. O Hip Hop é o canal de encontro desses dois polos.
O jovem que mora no Complexo do Chapadão não vive a mesma realidade do morador da Rua Bambina. Por mais que a vida na favela e nas periferias não seja só violência, ela está presente e perpassa a sua arte. Há uma fúria, sim, pra descarregar em poesia, fluindo com um ritmo onde o timbre grave impera e o agudo bate. Não é a toa que o poppin dos bboys pode simular um corpo sendo alvejado. A estética do grafite é realmente um estilo selvagem. O disco de vinil também tem que ser arranhado com agulha para que se ouça o som do scratch.
Há um projeto de poder estabelecido nas entrelinhas que diz que ser preto, favelado e ter um grau elevado de informação e conhecimento é sinal de perigo. Causa incômodo pra muita gente, ainda em 2016, sentar do lado de gente preta no voo de primeira classe ou na sala de aula de Engenharia Civil. É tido como correto o ônibus 444 (Parque União-Copacabana) não circular aos domingos, dia de maior movimento nas praias da Zona Sul.
A potência transformadora do Hip Hop se dá nisso: ser um canal para descarregar a violência que nos perpassa e que habita em nós. Através desse descarrego se produz arte. E após esse momento se chega no que os filósofos gregos chamam de catarse: expurgo da alma e do corpo. Dá ao jovem mobilidade, abre a visão de mundo, sonhos e vontade de realizá-los.
Somos a fissura, a quebra das vidraças, o alto falante pulsante, a contramão do caminho que o senso comum nos deu.
Somos o Hip Hop.