Créditos: Marcelo Valle
Igor Caldas/ALA
Igor Caldas/ALA

No final da tarde da última sexta-feira (11), a lua espiava a multidão de pessoas que se aglomerava na praça da Candelária para protestar contra a agora PEC 55, que estabelece um teto para os gastos públicos por 20 anos e será votada em breve no Senado Federal. O protesto marchou de forma pacífica até o Palácio Tiradentes, sede da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Depois de alguns artefatos pirotécnicos serem estourados, a rua virou palco de guerra. Quatro pessoas foram detidas no ato. Eu fui uma delas.

Cheguei por volta das 16h40 ao Centro e já dava pra ver como a PM se concentrou atrás do Palácio Tiradentes. Dois ônibus e mais de 4 viaturas estavam estacionadas ao lado do Paço Imperial. Esse seria o espaço cercado para a condução dos detidos mais tarde: era o cercadinho do inferno. Separados por uma grade, a PM impedia que civis fotografassem qualquer ação lá dentro. Ou seja, era um espaço liberado para infração dos direitos humanos ao lado da máquina legislativa do Estado do Rio de Janeiro.

Depois que a marcha fechou a Av. Rio Branco, os manifestantes chegaram à Alerj, cercada por mais de cem PMs armados. Os black blocks se posicionaram próximos à estátua de Tiradentes para plantar uma bomba caseira. Eles cercaram o artefato para evitar que outros manifestantes se machucassem durante a explosão. O barulho assustou a polícia, que partiu pro ataque lançando bombas de gás.

 

 

A guerra começou pela rua São José, paralela à Alerj. Os bares da rua foram esvaziados e mesas, garrafas e rojões foram atirados contra a polícia. Eu estava fotografando o embate dos mascarados contra a PM ao lado de outro fotógrafo. De repente, me vi sozinho. Levei uma voadora de um PM e fui cercado por pelo menos sete policiais, que me espancaram com cassetetes. Sem resistência, eu apenas gritava que era da imprensa. No caminho até o cercado atrás da ALERJ, eu era alvo de várias lentes de câmeras. Um desses cinegrafistas levou uma rajada de spray de pimenta no rosto apenas por estar registrando a prisão.

Dentro do cercadinho, os policiais não me bateram mais depois da óbvia conclusão de que eu era fotojornalista. Mais dois detidos chegaram ao local, e um deles tinha um sangramento na cabeça. O outro, mais velho e negro, estava muito assustado e não parava de falar. Ele levou umas pancadas enquanto estava algemado no chão. Um dos policiais jogou minha mochila perto de mim e a chutou. Quando perguntei o nome para o jovem com a cabeça sangrando sentado ao meu lado, fui reprimido verbalmente. Ele foi levado para o hospital enquanto eu e o outro cara fizemos um passeio de camburão até a 5ª Delegacia de Polícia na rua Gomes Freire.

Enquanto um crime falso era registrado na delegacia – fui fichado por resistência – a manifestação se dispersou e a polícia chegou até a altura da rua Uruguaiana com cavalos para reprimir manifestantes que se defendiam com barricadas. O meu amigo fotógrafo Marcelo Valle Registrou o momento em que fui detido e o desenrolar do conflito que não pude fotografar.

Veja galeria de fotos por Igor Caldas e Marcelo Valle: