Depois de oito anos sendo comandada pelo maior partido do país, a cidade do Rio de Janeiro começa o ano de 2017 com um novo governo de coalizão de vários partidos conservadores. O novo prefeito, que tomou posse ontem na Câmara dos Vereadores, é uma verdadeira incógnita. Em uma eleição na qual a maioria dos eleitores preferiu não votar, existe, sim, o receio de que ele vá governar (apenas) para o povo evangélico. Apesar de, durante a campanha, o novo prefeito jurar de pé juntos que seu governo seria composto especialmente por técnicos, seu secretariado está formado por aliados e até ex-adversários políticos do primeiro turno (como no caso de Indio da Costa, que assume a pasta de Urbanismo, Infraestrutura e Habitação, e Clarissa Garotinho, a nova secretária de Desenvolvimento, Emprego e Inovação).
Depois da vitória nas eleições, o novo prefeito fez declarações bombásticas, como a ideia de cercar com muros comunidades e favelas, citando os muros de Jerusalém após fazer uma viagem à Israel. Mas o que queremos saber mesmo é o que ele fará para melhorar a vida de milhões de pessoas que vivem nas periferias da cidade. Seu discurso principal, que na campanha era de “cuidar das pessoas”, agora é o da austeridade: “É proibido gastar”, diz ele seguidamente em entrevistas. Também assim falou ontem na posse. Este tipo de discurso é uma temeridade, já que cortes nos orçamentos governamentais pendem sempre para o lado mais fraco. Ou seja, projetos educativos, culturais e sociais são os primeiros a sofrerem com esse tipo de ação.
Outra área que o prefeito precisa resolver é o setor de transportes. Com o fim do subsídio do Governo do Estado do Rio de Janeiro ao Bilhete Único, faz-se necessário que ele reverta o projeto de racionalização da linhas de ônibus, que o antigo prefeito determinou para a cidade sem consultar os usuários. Felizmente, isso já está em andamento, conforme decreto publicado ontem.
É preciso também que o novo mandatário da cidade dê continuidade a projetos socioeducacionais que existiam em algumas escolas municipais, principalmente, os de cunho cultural. É imperativo que as crianças e adolescentes da cidade, tenham a possibilidade de conhecer outras narrativas e possibilidades.
A bola dentro das primeiras horas de mandato do novo prefeito fica pela escolha da secretária de cultura Nilcemar Nogueira, ex-presidente do Museu da Imagem e do Som, diretora do Museu do Samba e neta dos lendários Cartola e D. Zica. Ainda há esperança.