A rua é, sim, o principal aplicativo da Democracia. Não resta dúvida. Nas ruas, o povo, este partido esporádico, se agiganta e consegue, às vezes, impor seus decretos através de demonstrações de insatisfação e força. A rua é a tribuna do povo, o parlamento territorializado, o congresso de asfalto. O poder das ruas é o único que pode fazer frente ao Executivo, Legislativo e Judiciário. Mas só uma rara alquimia faz este poder crescer e vencer.
A conjuntura política é uma coisa fluida, que requer diversidade estratégica e tática. Em crises estabelecidas e de longo prazo, como as que resultam na tomada de poder por um grupo usurpador, sem empatia com a população, mas amparado nas forças financeiras da sociedade, é preciso abrir o mapa da guerra política e observá-lo como esfinge. A urgência e a espontaneidade, que são os atributos principais das ruas empoderadas, talvez tenham que também abrir espaço ao planejamento e a ousadia de novas táticas.
Vale lembrar também que as ruas atacam… Mas o Império contra-ataca. As manifestações espontâneas de 2013 receberam repressão policial (fascismo puro) e estigmatização midiática incessante (“Vandalismo! Vandalismo!”), o que arrefeceu o movimento. Em seguida, houve o que chamo de “gentrificação das manifestações”: a coxinhada verde-e-amarela pró-golpe, com direito a apoio midiático pleno e transmissão ininterrupta. A força das ruas foi apropriada pelos objetivos de nossos Darth Vader.
Ontem, vivemos protestos revigorados. Ainda não tão volumosos, mas potentes, reanimadores. A grande mídia não ignorou completamente, mas, hoje, as edições online já escondiam as notícias. E o Temer segue, e a Reforma da Previdência segue.
E agora? Devemos, sim, seguir fermentando as ruas. Provocando a misteriosa alquimia para, quem sabe, fazer o gigante acordar e varrer do mapa essa corja abjeta que tomou a República. Mas também é hora de novas diretrizes, de novos investimentos para nossas forças militantes.
Lembremos que, sem nunca por os pés nas ruas, os Bonners da vida seguem influenciando corações e mentes de nossa população. Devemos mirar na mídia! E por dois lados: fazendo um enfrentamento direto aos grandes meios de comunicação, enfraquecendo suas “marcas” e questionando suas posturas fascistoides, mas também disputar a mídia. Apostar na comunicação como ferramenta primordial a médio prazo, para a reversão lenta, mas tenaz do amplo quadro de imbecilização responsável pela ascensão de Trumps, Dórias e MBLs.
Precisamos criar nossos telejornais, nossos documentários, nossos debates, ampliar a diversidade narrativa! Precisamos de nossas redes de TV, de rádio, de novos jornais, em todos os meios, em todas as redes. Precisamos fazer a grande disputa da mentalidade brasileira.
A rua continua sendo o principal aplicativo da Democracia. Mas a comunicação é o principal aplicativo da República.