Por esses dia, chegou às minhas mãos o texto ”A doença de ser normal”, escrito pela jornalista Eliane Brum. O conteúdo serviu de base para o encontro semanal do MOLA – Movimento de Observação Livre de Amarras, cujo tema em debate era Juventude e Liberdade.
Logo nas primeiras linhas, o artigo apresenta a expressão ”normose”, citada pelo professor Hermógenes, precursor da ioga no Brasil. Normose seria a tal da doença citada no título. Colocar no patamar de doença o comportamento geral que Gonzaguinha cantou é uma expressão de incômodo bastante interessante, e requer coragem, porque nos coloca na posição de doentes também. Afinal, pensar e expressar inquietações, principalmente quando essa fala nos foi negada (e muitas das vezes ainda é), pode ser vista como uma doença em meio à normalidade.
O extermínio da juventude preta e favelada na cidade do Rio é um grave sintoma da normose, por exemplo. “Ah, mas morava naquela favela né? Devia ser envolvido com o bicho mesmo”: quem nunca ouviu esse tipo de coisa? É normal, comum para nós. É assim que a gente percebe como o racismo é eficaz por aqui. Não pode ser visto como normal o fato do corpo preto ser sempre o mais dilacerado, principalmente pelo braço armado do Estado.
Durante as trocas de ideias no encontro do MOLA, um outro conceito chegou até mim: o “Winner/Loser”, “vencedor/perdedor” na tradução literal. Somando a outras falas deste dia, esbarrei em outra doença muito presente no dia de hoje, principalmente na minha geração: o superismo, a mania de achar que somos Super Homens ou Mulheres Maravilha.
Sim, há muita gente fazendo duas graduações ao mesmo tempo, trabalhando em duas empresas e dois freelas, além de estar pendente com outros projetos e ainda contribuindo para desenvolver outros. Com poucos ajustes, esse exemplo poderia ser meu mesmo.
Geralmente, o problema não é o número de atividades com a qual nos envolvemos, mas o nosso grau de comprometimento com elas. Temos responsabilidades, e quanto maior nosso comprometimento, mais ela aumenta também. Tio Ben já disse algo parecido para o seu sobrinho Peter Parker, não é mesmo?
Aqui não se pode errar, não se pode criar expectativas em cima de situações incertas, não se pode deixar de responder o colega do Facebook que não discorda de você… Uma série de ações que, quando geram desacertos, ou não se sai como se gostaria, gera um mal-estar interno grande. Boa parte da minha geração também não tem uma boa relação com as falhas e as negativas.
Em que ponto estamos mais doentes?