Semana passada, minha coluna falou sobre três jovens ativistas que arriscam suas vidas denunciando a violência policial promovida pelo Estado. Parecia que estava adivinhando que uma tragédia viria a acontecer em uma escola municipal numa comunidade do subúrbio carioca. Maria Eduarda, 13 anos. Uma vida inteira e um sonho interrompido pela inoperância e total falta de respeito à vida alheia por parte da nossa Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, principalmente à vida de pretos favelados. Num país, onde segundo a Anistia Internacional, 82 jovens são assassinados diariamente, 2/3 desses jovens são pretos e/ou favelados. Só nesse ano, a Polícia Militar do Rio usou o famigerado auto de resistência 184 vezes. A PM mata cerca de 3 pessoas diariamente por aqui. Os dois policiais presos por executarem dois traficantes na Fazenda Botafogo estão envolvido em 37 autos desde 2012. O Cabo Dias se envolveu em 26 conflitos desses. 26! São verdadeiros serial killers. Por outro lado, nunca tantos policiais militares foram mortos no Estado do Rio de Janeiro. Só esse ano, passaram dos 40. Se os moradores não merecem morrer, com certeza os militares também não merecem sofrer tal destino. Sejam maus ou bons policiais, eles também têm direito à vida. Também são vítimas do sistema.
O maior problema na Polícia Militar é a preparação. São submetidos a toda sorte de dificuldades e humilhações. São treinados e doutrinados a encararem todos os favelados como suspeitos em potencial. A cartilha deles diz isso. O Estado, além de os preparar mal, os jogam para as ruas com armamento velho e coletes vencidos. Nas UPPs, as instalações são as piores possíveis e muitas viaturas não rodam por falta de manutenção e gasolina. Eles, então, descarregam toda a sua frustração e ódio nos moradores de favela. Talvez.
Se as nossas vidas fossem um filme, ele seria chamado de “Notícias de Uma Guerra Particular”, como no excelente documentário de João Moreira Salles. A pseudoguerra ao tráfico, na verdade, se tornou um círculo vicioso em que traficantes e policiais trocam tiros, com armas de guerra, nas favelas a qualquer hora do dia, sem a menor preocupação se vão atingir quem nada tem a ver com isso. Desde sempre foi assim. Pessoas morrem em suas casas dormindo, crianças morrem brincando, mulheres são alvejadas e arrastadas por viaturas. Agora, nem as escolas estão livres da violência.
Maria Eduarda tem que se tornar um símbolo da luta pelo “basta” às mortes de pretos favelados. Atingimos o topo da barbárie. A sociedade civil tem o dever de entrar nessa discussão e lutar pela vida desses jovens. Não dá mais para vir com o discurso “Não é comigo”. É responsabilidade de toda a sociedade. Enquanto a população branca e abastada não se mover em prol da vida, essa bomba relógio fica mais perto de explodir.
Maria Eduarda, presente!