Para 2/3 dos cariocas, bandido bom não é bandido morto. Mas 64% também acredita que a Justiça pune pouco, mesmo que o Brasil tenha uma das maiores populações carcerárias do mundo. Este e outros dados contraditórios fazem parte da pesquisa “Olho por olho? O que pensam os cariocas sobre ‘Bandido Bom é Bandido Morto'”, lançada nesta quarta-feira, 05. O estudo foi realizado pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC) da Universidade Candido Mendes (Ucam) sob coordenação dos pesquisadores Julita Lemgruber, Leonarda Musumeci e Ignacio Cano.
2,3 mil pessoas foram ouvidas para o levantamento, realizado entre março e abril de 2016. Os resultados surpreenderam os pesquisadores e reforçaram a necessidade de campanhas e de um debate com a sociedade sobre o que são os Direitos Humanos e para quem servem. O número de cariocas que concordam com a já famosa frase “Bandido bom é bandido morto” foi de 37%, considerado alto, porém, bem menor que a média nacional, que é de 57%.
Entre os que são a favor da pena de morte para criminosos, 31% acreditam que só a polícia deveria matá-los. Uma parcela maior (38%) admite a pena de morte executada apenas pelo Judiciário. Ao mesmo tempo, a margem de confiabilidade é baixíssima. Os entrevistados deram as notas 3,5 para o sistema judicial, 4,9 para a Polícia Militar e 5,8 para a Polícia Civil. “O carioca não acredita na justiça criminal (polícia e judiciário) como um todo”, resume Julita Lemgruber.
A afirmação se justifica a partir do fato de que 64% dos ouvidos entendem ser baixa ou muito baixa a chance de um criminoso ser punido pela Justiça. Vale lembrar que o Brasil possui a maior taxa de encarceramento de sua história e é o quarto país do mundo em população carcerária, com cerca de 650 mil presidiários. Além disso, ainda que o carioca confie mais na PM do que na Justiça, 69% dos entrevistados afirmam que a polícia não sabe distinguir trabalhador de bandido.
Evangélicos são mais tolerantes do que supõe o senso-comum
A pesquisa traz ainda um recorte importante sobre o posicionamento dos religiosos praticantes, aqueles que frequentam cultos diariamente. Muito associados ao conservadorismo, 73,4% dos evangélicos são contrários ao jargão “Bandido bom é bandido morto”.
– A recusa da morte não parece traduzir aí uma postura liberal-democrática de defesa do direito à vida. Mas em ambientes religiosos, em especial os de matriz evangélica, há uma maior crença na ressocialização de bandidos e no postulado de que só Deus dá a vida e só Ele pode tirá-la, resume Julita. 86% dos entrevistados que são religiosos acreditam que a ressocialização de criminosos é possível contra 73% da média global carioca.
Direitos humanos causam discórdia
Também contrariando o senso-comum, a maioria dos entrevistados discorda de questões como a prática de fazer “justiça com as próprias mãos” (75%). Entre os que consideram os linchamentos justificáveis, os índices de adesão variam conforme o tipo de crime: estupro (95%), assassinato (79%), agressão contra a mulher (52%), assalto (50%), crimes de corrupção (49%) e tráfico de drogas (41%).
Novas divisões aparecem quando o assunto é direitos humanos. 73% da população carioca acredita que os DH atrapalham o combate à criminalidade, e 56% entendem que os defensores dos direitos humanos defendem bandidos. Menos da metade (48%) entende que criminosos não deveriam ter direitos. Enquanto isso, 70% não concorda que a criminalidade seria resolvida com um licença para matar para a polícia. Para Julita Lemgruber, falta compreensão sobre o tema:
– A gente deve admitir que esse termo foi mal compreendido nas últimas décadas. O que podemos mostrar nessa pesquisa é que há caminhos. A maior parte das respostas não é de apoio à violações de direitos. Se todos não tiverem direitos humanos, ninguém terá, finaliza.