O futebol é talvez a maior paixão dos cariocas. Acabamos de entrar na semana de decisão do Campeonato Carioca, o antigo “Campeonato mais charmoso do Brasil”. Bem, nos longínquos anos 70 e 80 e talvez em uma parte dos anos 90, podíamos, sim, nos orgulhar desse título. Na minha infância e adolescência, ir ao Maraca era muito mais que apenas assistir a uma partida de futebol e torcer pelo seu time. Era um verdadeiro acontecimento social.
Hoje, em dias de gentrificação na nossa cidade, o Maracanã se transformou num lugar frio. Conseguiram elitizar um dos poucos lugares que o carioca poderia chamar de seu. Centenas de ambulantes tiravam o sustento de suas famílias nos jogos, fosse do lado de dentro ou no entorno do estádio. Água, cerveja, refrigerante, churrasquinho, pipoca, queijo, cachorro quente Geneal, Mate Leão, picolé chinês, fone de ouvido, capa de chuva… Enfim, uma verdadeira festa do povo. Lembro que, em dias de jogos não tão cheios – do tipo Flamengo versus um time pequeno – , a gente chegava meio dia e ficava soltando pipa, ou jogando uma pelada nos acessos à arquibancada.
O cenário atual é diferente. O processo de elitização do Maracanã foi frio, calculista e gradual. Primeiro, acabaram com a Geral, lugar mais popular do estádio, onde o valor dos ingressos era muito baixo. Depois, com a desculpa de colocar o estádio sob o chamado “Padrão Fifa”, acabaram também com o costume local e reprimiram os vendedores ambulantes. Numa decisão controversa, a Justiça determina que a venda de bebidas alcoólicas sejam proibidas num raio de 1000 metros em torno de estádios. Sucessivas reformas foram acontecendo no estádio para se “adequar aos padrões das competições”. Destruíram o Parque Aquático Julio Delamare e o Estádio de Atletismo Célio de Barros, local onde atletas de baixa renda faziam seus treinos. As reformas para os Jogos Panamericanos, Copa das Confederações, Copa do Mundo e Jogos Olímpicos nos revelam agora que os gestores e governantes da época tinham outras intenções: enriquecer, tal qual delatado pelos empreiteiros da Odebrecht.
Privatizaram o que era do povo, e hoje o antigo Maior Estádio do Mundo se encontra num momento de abandono e muitas incertezas quanto ao futuro. A situação é tão caótica que o consórcio que administra o estádio vai leiloar o Mário Filho menos de três anos após conseguir a concessão. Na época, foi falado que o estádio se tornaria um pólo multiesportivo, mas o que se vê hoje é que quase o transformaram num elefante branco.
Salvem o Maracanã!