Humilhações, jornadas exaustivas, horas-extras não pagas, carteiras de trabalho que nunca são assinadas, agressões verbais, falsas promessas de crescimento ou aumento de salário, ameaças de demissão, manipulação psicológica, assédio moral e até sexual. Quem nunca viveu nada disso, certamente nunca teve um emprego – ou nunca precisou ter um.
Um post simples no Facebook pode se tornar um grande confessionário de assédio moral no trabalho. Os casos são inúmeros. Eu mesma, pessoalmente, já passei por diversas das situações citadas no primeiro parágrafo desse texto. Esse tipo de questão afeta principalmente quem mais precisa de oportunidades: jovens pobres, com pouca experiência e baixa escolaridade.
As empresas exigem muito do trabalhador. Mas poucas vezes oferecem o retorno necessário para que haja um estímulo mínimo ao trabalho bem feito. Essa falta de recompensa pode ser financeira ou apenas psicológica. Tratar bem um funcionário e incentivá-lo deveria ser o mínimo. Mas, talvez por um passado escravista, impera aqui a regra do “quem manda sou eu”. Em tempos de crise, em que há mais demanda que oferta, a situação só piora.
Não estão em melhor situação os trabalhadores que se orgulham de ter o privilégio de fazerem o que gostam. Quem é da periferia e quer trabalhar com arte ou comunicação já sabe que o mercado de trabalho dita regras absurdas, com muita exigência – a começar, muitas vezes, pela formação – e pouca recompensa. Mas, em meio a tanto infortúnio, parece vantajoso viver em estado permanente de Síndrome de Estocolmo, adorando aquele que o explora. É necessário parar a romantização dos excessos no trabalho. Não há nada de bonito em se dizer workaholic, principalmente se você produz apenas para enriquecer os outros.
A propósito, a Reforma Trabalhista que nossos digníssimos representantes em Brasília tentam aprovar à revelia do povo vai praticamente institucionalizar muitos dos exageros dos patrões. A prevalência de acordos sobre a lei torna possível, por exemplo, a flexibilização total de horários de trabalho, algo que já acontece na prática e a lei deveria evitar.
O trabalho é uma parte fundamental da vida de todos nós. É o que, em uma sociedade como a nossa, nos dá norte na vida e define, muitas vezes, nossas personalidades. Evitar abusos no mercado de trabalho é, principalmente, cuidar da saúde mental do trabalhador. A depressão já é uma das maiores causas de afastamento de emprego. Isso pode ser um indício de que estamos fazendo tudo errado em nome da sobrevivência.
Nenhum trabalho pode valer mais que a sua sanidade mental. É preciso cuidar com muito zelo das ferramentas mais importantes que possuímos: a autoestima, as ideias, a capacidade de criar – tudo isso que torna cada um de nós seres únicos em vez de meras máquinas de produzir.