A pomba da paz foi assassinada aqui no Alemão. Os incansáveis pedidos de paz têm resultado em nada. As manifestações e pedidos de socorro de nada têm adiantado. A paz não chega aqui. A impressão que tenho é que somos suprimidos pelos nossos próprios apelos. Quando gritamos pedindo a chegada da paz, só mais guerra. A mensagem que é entendida pelo poder público é que é preciso enviar mais poder bélico para combater o mesmo poderio bélico que vemos aqui.
Urramos num desespero de sermos atendidos na sua totalidade pelo poder público. Mas a nós só são enviados caveirões, fuzis e homens com gosto de sangue na boca. Isso só gera confrontos e mais confrontos, pessoas em pânico, mortes, dor. Nada está adiantando. Essa tática arcaica é falida e não funciona, porém, é usada insistentemente pelo programa de segurança. Suas ações descabidas não têm precedentes quanto a arbitrariedade. Mesmo sabendo de todas as violações, eles sempre se justificam de que estão atendendo aos nossos pedidos de paz. Aí está a grande falácia.
O assunto do momento é paz. Só se fala em paz, mas ela está a cada dia mais distante de nós. Só recebemos como resposta os gritos de dor e o aumento vergonhoso nas estatísticas de mortos e feridos em confronto. Não há paz, só medo de cruzar a próxima esquina. Em vez de ouvir o ruflar das asas da pomba branca, cotidianamente o que mais escutamos é o zunido dos projéteis passando próximos a nós, furando paredes e nossos corpos.
Tudo falhou: os fóruns, os encontros de pesquisadores e debatedores, os centros de estudos de segurança, todos os milhões investidos. Tudo falhou porque só pensaram na teoria e esqueceram das pessoas, que, no meio de tudo isso, sobrevivem sob o medo, as pressões e o preconceito de uma sociedade que nos condena diariamente.
No Complexo do Alemão, a pomba da paz tomou um tiro no peito. Hoje, pedir paz é alimentar essa guerra insana.