Os tanques estão aí. Mais de 10 mil homens das forças de segurança estão nas vias da Cidade Maravilhosa, o “purgatório da beleza e do caos”. Alguns milhões estão sendo gastos com toda essa logística. Mas o que estamos vendo é só um paliativo que quer mostrar a toda população de que algo está sendo feito. Puro engano.
O enredo dessa farsa já presenciamos, tempos atrás, em outras ocasiões. Algo desse tipo já foi colocado como solução para conter a onda de violência, que, de forma irresponsável, deixaram que acontecesse. O uso desse tipo de instrumento, prova da incompetência dos que governam, é estapafúrdio e sem sentido. Qualquer um percebe que colocar militares nas ruas passa longe da resolução dos problemas reais.
O maior exemplo de que não funciona é o que foi feito na Eco 92, na militarização da Maré e as UPPs. Foram gastos exorbitantes e resultados pífios, sem demonstração de algo realmente resolutivo. Tenho total convicção: nunca vai resolver nada os governantes acharem que basta encher as vias e locais deflagrados de militares.
Ações de médio e longo prazo são o meio mais rápido para que algo realmente seja feito. Trazer à baila a necessidade de mostrar que errou e investir imediatamente no ser humano, “nas pessoas”, como afirma um certo prefeito aí… Por que não fazem isso?
Vejo servidores passando fome, massacrados há meses sem receber seus salários em dia, escolas sendo fechadas sem condições alguma de se manterem aberta, universidades obrigadas a suspender atividades por falta de verba. O mais degradante de tudo são os hospitais e postos de saúde, que muitas vezes mal contam sequer com álcool e gaze para um curativo, muito menos médicos. São tantas as necessidades de máxima prioridade, tanta coisa faltando nesse Estado falido. Mas o que nos é enviado? O que é que o Governo Federal envia para o Rio? Tropas com 10 mil homens, tanques de guerra, fuzis e munições. Isso é inadmissível, inaceitável. É cruel.
Por que será que o governo golpista de Michel Temer, em vez de oferecer os R$ 13 milhões para hospitais e creches que estão à míngua, repassou para o carnaval por intermédio daquele deputado que perdeu as eleições para a Prefeitura do Rio? Por que, em vez de mandar tropas e tanques e gastar diariamente milhões com a militarização da cidade, não enviou ajuda para pagar os servidores e garantir o funcionamento da Uerj, que acaba de suspender o ano letivo por tempo indeterminado? Não há como conceber algo dessa natureza em um momento tão difícil, com tanta gente sofrendo, querendo comida e não tanques.
O povo do Rio de Janeiro chora assombrado com o fantasma da fome e do desemprego. Mas, no entendimento dos governantes, é com tanques e guerra, que só geram mais confrontos, que tudo vai se resolver. O povo quer comida na mesa, senhor presidente. O povo quer condições de sobreviver, senhor governador. Todas as outras questões são secundárias.
Assim como as UPPs falharam, essas ações custosas e impensadas também vão fracassar.