Pô, Seba!
Nesta terra de índios dizimados e de negros fuzilados,
escolheram a ti, branquelo blasé flechado, para padroeiro?!
És da estirpe tão típica dos vilões vitimizados?
Ou ator aceitando o papel sem olhar o roteiro?
Simbolismo falcatrua imposto a densidades milenares?
Sinceramente, eu preferia um pajé-orixá funkeiro!
Te aceito, mas bolado. Te respeito, mas não sou beato!
Pô, Tião! Franze ao menos essa testa pra forjar a dor destas flechas que te rasgam o peito!
Ou é caô? Flechinha do Saara? Adereço cenográfico? Jamais fostes perfurado?
És poser pra escultor do Primeiro Reinado?
Não é desrespeito com cinco séculos de cadáveres empilhados?
Nestas batalhas trans-seculares de praia, morro, asfalto?!
Em nome do rei, da cruz, da segurança, do estado?
Ontem, tamoios, hoje, favelados?
Pô, Seba! Olhai por nós, apesar de tua origem simbólica tão governista!
Quem é você? Garoto propaganda da Primeiríssima Upepê?!
Ícone da vitória sobre o Comando Urucum?
Fachada para encobrir os abusos da caravela de elite do Capitão Estácio?
Eu não sei qual é a tua, Seba!
Dizem que tu é gringo! Mas… a la Selaron (Viva!) ou daqueles sem “noçón”?
Somos um povo já bolado com tantos impostos mitos
Só te aceito como rito festivo, se tu entrar no terreiro, no baile, na Mimosa, no presídio, e entender a gargalhada deste povo aflito! Flechado blasé eu não engulo!
Pô, Seba! Desculpe te questionar, sei que geral te acha maneiro
Mas observo esta cidade há anos e anos e anos inteiros
E santo nenhum dá jeito!