“Sobre cotidianos desastrosos e o cotidiano dos desastres – questões urgentes para os psicólogos”
Nos últimos dois anos, assistimos no estado do Rio de Janeiro a eventos particularmente dramáticos: o desabamento do Morro do Bumba; a ocupação do Complexo do Alemão pela polícia e forças armadas; a tragédia ocasionada pelas enchentes na Região Serrana e o assassinato em massa de alunos na Escola Municipal Tasso da Silveira, localizada no bairro de Realengo. Estes eventos muito se diferenciam em suas especificidades, mas também se assemelham em alguns aspectos que pretendemos destacar.
1. Todos foram exaustivamente noticiados pelos diversos canais midiáticos no Brasil e no restante do mundo, gerando grande comoção e mobilização da opinião pública.
2. Aresposta dada pelo Estado consistiu em uma avalanche de serviços e técnicos vindos de diferentes setores como justiça, saúde, assistência social, habitação, dentre outros. Impossível não percebermos aqui a existência de um contraste entre o “desastre” cotidiano e silencioso da ausência do Estado e o excesso da presença estatal nas situações que têm sido chamadas “emergenciais ou de desastre”, o que nos remete à questão das políticas públicas baseadas no medo e na insegurança;
3. Em todas estas situações, psicólogos foram enviados para atendimento às populações afetadas, medida que foi divulgada com destaque e repetida nos diversos canais midiáticos.
Diante deste quadro, observamos a existência de uma configuração que vem se apresentando de maneira sistemática, gerando sofrimento na população e cujo enfrentamento exige o investimento de significativos recursos financeiros e humanos. Estas características justificam o crescimento do debate sobre estratégias de enfrentamento às situações de emergência e desastre, que vemos ocorrer tanto no estado do Rio de Janeiro como em âmbito nacional.
Neste contexto, o CRP-05 promove a roda de conversa “Sobre cotidianos desastrosos e o cotidiano doa desastres – questões urgentes para os psicólogos”, em sua V Mostra de Psicologia. Esta atividade visa reunir psicólogos e outros membros da sociedade civil que estiveram diretamente envolvidos nas referidas tragédias, bem como estudantes e demais pessoas interessadas, para travarmos discussão que possa contribuir para a reflexão acerca desta temática e, mais especificamente, pensar a atuação do psicólogo nestas circunstâncias.
Ressaltamos ainda que, dada a relevância e visibilidade da questão, o Conselho Federal de Psicologia construiu um planejamento unificado para tratar a temática, que será executado entre 2011 e 2013. Sendo assim, através desta roda de conversa pretendemos analisar as sucessivas experiências vivenciadas no Rio de Janeiro, contribuindo também em âmbito nacional para a discussão, reflexão e construção de referenciais técnicos e éticos coerentes com nossa prática profissional.
Ressaltamos como eixos importantes para balizamento desta discussão:
A espetacularização do sofrimento, produzida reiteradamente através da mídia, e seus efeitos sobre a população em geral, sobre às formas de atuação do Estado e sobre a inserção do psicólogo nestas situações;
A análise sobre o que podemos considerar como emergências e desastres, relacionando-os à postura do Estado no atendimento à população: em que pontos podemos observar sua ausência ou sua presença, bem como seu excesso e a que este visa. Como têm sido coordenadas e planejadas as ações intersetoriais nestas situações e como se dá seu desdobramento a longo prazo?
Que referenciais orientam o poder público na convocação do psicólogo para atuação nestas circunstâncias? Que formas de atuação são ética e tecnicamente coerentes com a prática do psicólogo nestas situações?
Saiba mais sobre esse evento em: http://www.crprj.org.br/mostra/