Saudações a todos da Agência de Notícias das Favelas.

Meu nome é Hamilton Santos. Sou professor concursado pela Secretaria Estadual de Educação do Rio de Janeiro desde 2006.

Venho por meio desse texto, passar para o conhecimento da população carioca a situação dos professores estaduais.

Desde o dia 7/6, os professores em assembléia decidiram de maneira unânime entrarem greve. São65% dos professoresem greve. Nãoagüentamos mais. Estamos recebendo salário de fome. O professor ganha R$ 680,44 quando entra no estado.

Estamos lutando por dignidade salarial. Lutamos por nossas famílias, que estão passando necessidade. A educação pública pede socorro.

Nossas reinvindicações são:

-Aumento de 26% do nosso salário de fome.

-Incorporação imediata do Nova Escola.

-Descongelamento do plano de carreira.

Pedimos muito pouco em comparação com as somas financeiras bilionárias arrecadadas pelo estado.

Tenho mulher e criança para cuidar. Não consigo sustenta-los dignamente. Tenho que escolher que conta vou pagar. Não temos plano de saúde, pois nosso salário não consegue pagar um plano de saúde, fazer um óculos etc.

Quando chega por volta do dia 16 de cada mês, tenho que pagar empréstimo no banco, pois o salário já acabou. Sou professor, consciente do meu papel social, da importância da educação de qualidade. Somos educadores e estamos preparando o futuro do país.

Porém, atualmente precisamos trabalhar em três ou quatro escolas para tentar garantir um salário insuficiente.

Temos que trabalhar manhã, tarde e noite. Quando chegamos em casa, ainda temos que preparar aulas do dia seguinte. Chegamos na sala de aula cansados, despreparados e impacientes.

Cinco professores por dia abandonam a educação pública no Rio de Janeiro. Faltam professores de todas as disciplinas para os nossos alunos. Cadê o dinheiro arrecadado pelo estado?

O pior é que o governo estadual entope salas de aula de alunos, como se fossem depósitos humanos. Turmas com40 a45 alunos em salas minúsculas. Termina o ano letivo e você não consegue nem conhecer a vida, a história de vida do seu aluno.

Somos obrigados a lançar notas dos alunos pela internet, fazendo trabalho de secretaria, pois o governo não chama funcionários para desempenharem essas funções e o professor além de tudo o que ele precisa fazer para sobreviver, ainda é obrigado a trabalhar fazendo trabalho de secretaria.

Por que a educação está nessa situação ? O Rio de Janeiro é o segundo estado em investimentos federais, é o segundo em arrecadação de impostos. Nosso estado produz 80% do petróleo nacional na Bacia de Campos. Para onde vai tanto dinheiro ?

É claro que pode ser pago um salário digno para os professores e bombeiros. Porém, fica impossível quando o dinheiro evapora misteriosamente.São muitas empresas terceirizadas. Aluguéis até de ar condicionados. Quais são esses contratos e licitações? Quem é privilegiado por essas negociações ? É muito dinheiro evaporando.

Cada dia que ligamos nossas televisões são noticiados novos escândalos de corrupção protagonizados pelo governo do Estado.

Por esses inúmeros motivos os professores estão em greve há 36 dias.

Estamos lutando por dignidade salarial, por educação de qualidade para as crianças filhas de trabalhadores que não tem condições de pagar uma escola particular, por respeito ao dinheiro público, por respeito à população carioca.

A juíza da 3ª Vara deu ganho de causa na justiça para os professores.

Estamos realizando inúmeras passeatas no centro do Rio de Janeiro e nos municípios. Estamos sendo apoiados por alguns deputados estaduais preocupados com a situação da educação pública no Rio de Janeiro.

O apoio mais importante está sendo dado pela população carioca. Estão nos apoiando o tempo todo. Agradecemos ao povo, pois sem vocês não conseguiríamos lutar para melhorar a situação da educação pública.Obrigado, jamais esqueceremos o apoio do povo carioca.

No dia 5/7 houve uma passeata pacífica e ordeira até o Palácio Guanabara, residência do governador. Ele não nos recebeu. Colocou a tropa de choque em cima para tomar conta de professores como se fossemos bandidos.Toda passeata nossa acontece isso.

No dia 12/7, ocupamos o prédio da Secretaria Estadual de Educação para chamar a atenção dos meios de comunicação e da população carioca para a situação de desespero e do mistério do sumiço de grandes somas de dinheiro público que deveria ser destinado a educação estadual. Porém, ao entrarmos de maneira pacífica e cuidando para que o patrimônio fosse preservado, o governador do Estado mandou a tropa de choque bater nos professores e jogar gás de pimenta.

Entre os professores haviam mulheres, idosas e crianças. Jogaram gás de pimenta sobre os professores, uma professora sexagenária não agüentou e desmaiou. Soltaram gás de pimenta ao nosso lado, gerando crises respiratórias nos professores.

Fato lamentável, pois são os professores estaduais que educam os filhos das pessoas pobres e os policiais militares não podem esquecer que ganham mal e são pobres. Nós professores estaduais educamos os filhos dos policiais e eles a mandam do governados nos agridem. Agressão a professor é inaceitável.

Porém, cassetetes e gás de pimenta não são o suficiente para parar os professores.  Mesmo com essa atitude lamentável do governador e da tropa de choque, ficamos na frente da Secretaria Estadual de Educação cantando e comemorando a força da nossa mobilização. Gostei de ver, professoras de idade avançada ficando ali até a noite. Filhos de professores ali com a gente. O secretario de educação estava reunido com uma comissão dos professores, enquanto estávamos cantando em frente à secretaria. Tinham por volta de 2000 professores no evento, contando com seus familiares. Fato que só aumentou a irresponsabilidade da tropa de choque e do governador Cabral.

Nosso ato terminou por volta das 20:30 e logo em seguida foi montado um acampamento de professores ali e estaremos acampados até o Sérgio Cabral conceder aumento salarial para os professores.

O apoio que os alunos estão dando é fundamental. Muitos alunos apareceram na ocupação da Secretaria Estadual de Educação para apoiar o movimento dos professores.

País que não investe em educação é país atrasado e subdesenvolvido.

Essa é a melhor lição que eu posso ensinar para os meus alunos, aprender a lutar pelo o que é certo, a ser honesto e ser bem remunerado quando se estuda. Essa greve é a melhor aula que estou dando para os meus alunos.

Todo apoio à greve de fome dos bombeiros. Juntos somos fortes!

Venceremos.