Somos todos Carolina. Essa até poderia ser mais uma campanha da internet… É que a internet tem dessas artimanhas, nos jogar em um pacote de dados e nos fazer acreditar em algo.
De fato, as redes nos deram uma voz absurdamente necessária para questionar situações que outrora internalizávamos sem saber o que fazer. O grande X da questão é que, muitas vezes, essas campanhas me deixam com uma lacuna aberta, onde eu sei que não me enquadro.
Essa semana, me permiti ler Carolina. Finalmente, me encontrei ali em cada linha formada, escrita e divulgada. Nós não nos conhecemos, mas encontrei minha história na dela. Vi minha casa na dela, minha inquietudes, meus desafios diários.
Eu me vi Carolina.
E, como canta seu Jorge, “Carolina é uma menina bem difícil de esquecer…”.
Carolina está na minha vizinha, esteve na minha mãe e na minha avó, que, inclusive, se a tivesse conhecido, diria: “Venha cá, preta, que tu não vai passar perrengue sozinha. Temos o mesmo sobrenome, com certeza, somos família”.
Jesuína Maria de Jesus: minha avó era a baiana mais arretada e calma ao mesmo tempo, tinha um olhar inesquecível e, sempre que a noite ia chegando, me contava de suas histórias da roça. Um dia, em nossa cozinha feita de telhas e do chão de paralelepípedo, enquanto eu subia no banquinho para lavar a louça, ela me contou sobre como foi vir para o Rio de Janeiro e morar na beira da linha do trem.
Três filhos. Duas meninas e um menino.
Histórias cruzadas, distintas, mas tão parecidas.
Carolina Maria de Jesus: mulher preta e favelada que, enquanto criava seus filhos, buscava na leitura e na escrita reforço para continuar a vida. Em meio ao caos, as acusações infundadas da vizinhança e as loucuras externas, ela estava sempre pronta.
O Brasil possui mais de 11 milhões de favelados que, entre becos e vielas, buscam não perder seus sonhos de vista.
Certa vez, passando pela Linha Amarela, minha amiga mencionou o quanto era linda a imagem das luzes acesas na favela e, enquanto a Whitney cantava no rádio, eu só conseguia engolir à seco as histórias e sonhos que seguiam abafadas em quartos sem ventilação para a esperança.
Não é bonito viver na favela, é angustiante, é assustador, não é motivador. O que fazemos é encontrar estratégias de sobrevivência. É sobreviver um dia após o outro para que os próximos acreditem que ainda dá pra meter o pé na porta do quarto de despejo.
Carolina não era letrada, mas trazia no peito rasgado a vontade e a coragem. É preciso muita coragem para peitar um mundo inteiro de contradições. E foi a trancos e “barracos” que ela firmou, disse e cumpriu.
#SomosTodosCarolina: ta aí! Com certeza, uma hashtag que daria certo pra mim. Pra você, não?