Onde estão os projetos sociais? Esta é uma das perguntas que estava na boca do povo no favelão do Jacarezinho – segunda maior favela da América do Sul e maior concentradora de negros. Por que aqui o governo do Estado só nos manda a polícia? Outro fato estranho é que aqui também não tem: plantação de maconha e nem da papoula (origem da cocaína). Também não existe na favela fábrica de armas. Como explicar as inúmeras aprensões de drogas e armas em todas as operações realizadas na favela? As perguntas não param por aí. Praticamente uma vez por semana, é realizada operação para recolher usuários de crak pela manhã. A imprensa dá total cobertura e publica o número de pessoas recolhidas na operação, inclcusive crianças. A tarde, podemos constatar que no mesmo local, o número de usuários é bem maior. Faremos uma foto do local para mostrar a todos que acessam o nosso site, a realidade. Por que acontecem esses fonômenos? Como chegam essas armas e drogas por aqui? Será que vieram com o Papai Noel? Ou chegaram através das cegonhas? A favela todos nós sabemos que está aqui, mas o Estado onde se encontra? O nosso prédio hoje foi arrombado. Nele funciona: Uma academia com box, judô, ginástica, dança, Cyber Café, e hoje, exatamente, estamos colocando um balcão de emprego. A sede da ANF- Agência de Notícias das Favelas e do MPF-Movimento Popular de Favelas, foi colocada ali justamente para tentar evitar estes abusos e autoritarismos de policiais que se escondem atrás da farda e de suas credênciais. A preocupação nossa é por saber que policiais bandidos podem colocar drogas e armas no local e alegarem que encontraram lá. Esta é uma rotina já exaustivamente denunciada. Lembram da Fábrica de Esperança em Acari? Lembramos que todos esses projetos que se encontram na favela, fomos nós que trouxemos. O Estado deveria nos agradecer por tudo que estamos fazendo sem recursos públicos. Colocamos o pouco que temos. Mas se o fizer, estará assinando em baixo a sua incompetência ou má vontadade, quem sabe?
Por fim, ficamos com as tristezas e incertezas das futuras operações “Enxuga-Gêlo”. Fui em direção do Caveirão e perguntei se podia falar com o chefe da operação, um tal de” cabo goular” do terceiro batalhão, o qual respondeu- me que não, pois já estava tudo certo. O nome do cabo esta escrito em minúsculas propositalmente, porque em sua farda não constava o nome como manda o figurino.
A mídia oficial publicou quase tudo: as apreensões das drogas, o recolhimento dos usuários, os cachimbos utilizados pelos mesmos-destaque para o cachimbo- lâmpada encontrado. O sensacionalismo estava completo. Esta mída se identifica com os holofotes. Enquanto estes estiverem acesos, o “povão” assiste garantindo assim a sua audiência. Esqueceram de publicar o arrombamento da sede da nossa instituição.
O artigo é interrogativo, portanto, vamos terminar perguntando: Até quando os milhares de moradores (90.000), vão continuar de braços cruzados esperando a morte chegar e com receio das arbritariedades dos grupos que promovem a cultura do medo? De um lado o tráfico, do outro a polícia. Vamos ou não vamos descer os morros?
Rumba Gabriel