Nas últimas semanas, vídeos nas redes sociais mostraram casas de Candomblé e Umbanda vítimas de intolerância religiosa. Os espaços eram invadidos por traficantes, que obrigavam os líderes a quebrar as imagens nos terreiros e os abandonar. Os episódios foram frequentes no Morro do Dendê, Ilha do Governador. O tráfico de drogas local usava o nome de Jesus durante as invasões e afirmava que as casas de santo eram malignas.
Já não é de agora que esses abusos contra as religiões de matriz africana acontecem na sociedade. A yalorixá Rosiane Rodrigues, do Ilê Axé Omilayo, conhece muitos casos. Ela mesma acredita ter vivido o preconceito na pele ao ver a justiça determinar a retirada da guarda de seu filho até que passasse uma por perícia psiquiátrica – tudo porque ela é do candomblé.
Para Rosiane, a intolerância à sua crença se dá por interesses econômicos e políticos, tendo em vista o grande número de pastores e evangélicos no Congresso Nacional: “Esta atuação é um sintoma do fundamentalismo cristão. A causa é a teocracia estatal do Brasil”, opina ela, para quem só um modelo de educação que ensine a positivar as diferenças e leis que proíbam os discursos de ódio na mídia podem resolver a questão.
O pastor batista e militante dos direitos humanos Henrique Vieira também vê a educação e campanhas que conscientizem a sociedade sobre o respeito como caminho para combater a intolerância. Henrique ressalta ainda a importância de os cristãos defenderem o estado laico e a liberdade de crença, promovendo a paz. Para ele, os ataques estão além do simples fanatismo. “Essa violência está para muito além do tráfico. Ela reflete a intolerância religiosa e o racismo religioso. Por isso são as religiões de matrizes africanas as mais perseguidas”, resume.
Publicado na edição de novembro de 2017 do Jornal A Voz da Favela.