Sair às ruas. Dar a cara para bater por algo em que você acredita. E permanecer por lá até ser ouvido. Não tenho certeza na efetividade e poder de mudança que ações como essa de fato imprimem na realidade, mas posso garantir que é bonito de se ver. Não falo isso de maneira superficial, esteticamente. Quero dizer que a sensação ao ver mais de 300 barracas acampadas por dias na área mais nobre de Tel Aviv é, no mínimo, interessante.

A causa é relevante: os estudantes questionam o mercado imobiliário da cidade, implorando por políticas que os permitam alugar ou comprar apartamentos na cidade mais jovem de Israel. Mimados? Querem morar no lugar bacana e resolveram sentar emburrados e protestar? Pode ser. Mas saíram de suas casas, organizados, em busca de mudança na qualidade e igualdade da ocupação da cidade.

Como bem disse um dos protestantes, “dizem que nossas exigências não são claras o suficiente. Mas assim como um paciente que vai ao médico, sabendo da existência de um problema, mas não necessariamente ciente de sua solução, imploramos aos nossos líderes ajuda na solução do problema de moradia de Tel Aviv”. Soou interessante quando ouvi. Pareceu mais interessante ainda quando observei por dias a ocupação das barracas de acampamento na rua.

Pensei muito na nossa capacidade de mobilização, de parar tudo o que estamos fazendo para influenciar nossas lideranças (sejam elas quais forem) para que nos ajudem a solucionar problemas que ainda persistem ao nosso redor. Pensei na Avenida Paulista ocupada. Centenas, ou milhares de barracas colocadas no meio fio da avenida mais agitada de São Paulo, totalmente ocupada por pessoas em barracas e/ou barracos para chamar a atenção ao problema de moradia da cidade.

Cada grupo de barracas poderia representar uma favela, um cortiço ou um prédio abandonado à espera de um boom imobiliário na cidade, ocupado atualmente apenas pelo vilão da especulação imobiliária. Uma oportunidade de trazer para o centro da cidade – e para os olhos de todos – os problemas escondidos nas periferias e prédios vazios pela cidade.  Envolver jovens universitários, moradores de regiões centrais e periféricas, de baixa renda ou alto poder aquisitivo na ocupação das ruas principais da cidade, como forma de apresentar os sintomas aos nossos doutores (como se nós todos não soubéssemos).

Será que o problema de moradia nas favelas em São Paulo é um problema de dinheiro, infra-estrutura ou vontade política? Talvez ainda não saibamos, mas sinto que é hora de colocar a discussão na mesa de operação e dissecar as possíveis soluções. O quanto antes. É hora de “reduzir a epidemia por meio de uma campanha de vacinação coletiva”.

Assista uma matéria interessante sobre o assunto das moradias, produzido pelo CRECISP.