Da pauta da modernidade

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Vivemos em um mundo onde nascemos para vencer na vida. Os ensinamentos já se iniciam no meio familiar. É ali que aprendemos os valores sociais – que, hoje, são os mais conservadores – e crescemos cultivando-os. Levamos esse valores para a vida toda como se fossem verdadeiros, universais.

Em nome disso e da moral, muitas pessoas foram assassinadas, perseguidas, torturadas – ora por causa da fé, ora para assegurar a fortuna de reis e rainhas, ora as duas questões juntas. Já ouvimos histórias sobre a existência das bruxas, que eram mulheres más e que faziam feitiçarias para prejudicar as pessoas. Muitas delas foram queimadas pela santa fogueira da Igreja Católica.

Após a escravidão moderna, como as vivenciadas aqui no Brasil e diversos países, outros segmentos sociais começaram a ser perseguidos. Nesse país, a perseguição alcançou as religiões de matriz africana. Chamadas de religiões do mal, foram satanizadas, ao ponto de terem seus cultos proibidos. Assim ocorreram muitos outros processos de perseguição.

Desde o século XX, temos vivenciado lutas e mobilizações que negam esses valores universais, pois, em sua maioria, perseguem e matam populações inteiras em nome do poder e da fé. Diversos movimentos foram surgindo, outros resistindo. No caso das novas iniciativas, podemos apontar o movimento feminista, mulherista, negro, LGBT. Entre os resistentes, estão as religiões de matriz africana, com o candomblé e a umbanda.

São expressões de lutas que querem pautar a preservação da vida e da cultura que o Ocidente sempre desqualificou e invalidou. São formas de conhecimentos e saberes que, por não se enquadrarem nos padrões europeus, são tidos como atrasados, barbáros, quando, na verdade, os barbáros são eles, os europeus, que, para rapinar a riqueza alheia, mataram, estupraram, sequestraram. Que tipo de civilização é essa?

Nos temas atuais de luta, a título de exemplo, o movimento negro tem formulado suas propostas, retomado valores ancestrais e lutado diariamente para viver em melhores condições, além de retomar a escrita da própria história. Com isso, tem sofrido um tanto de ofensivas da direita, que sempre enxergou a população negra como objeto, e da esquerda, que sempre utilizou essa mesma população como massa de manobra.

Estamos ocupando todos os espaços, e cada vez mais estaremos em locais de onde sempre quiseram nos tirar. Precisamos disputar os espaços de poder. Basta de posições secundárias. Queremos decidir os rumos da história e não sermos chamados a assistir passivamente às decisões. No entanto, o cerco tem se fechado para a participação das mulheres, da população LGBT, dos negros e das negras, dos índios, afinal, os brancos pirivilegiados estão enraivecidos em nos ver nas universidades, nas escolas, no Ministério Público ou até mesmo nos aeroportos. Eles se incomodam quando precisam sentar ao nosso lado no avião, quando precisam nos servir.

Sim, sabemos que queremos construir uma outra forma social e que ter acesso ao consumo não é tudo, mas sabemos também que fomos privados de consumir até mesmo o mínimo. Por isso, precisamos começar por simplesmente ter acesso a moradia, alimentação, transporte, escolarização, lazer, ocupar as cadeiras dos espaços de poder. Não se faz transformação social com pessoas famintas e infelizes. E, como sabemos, somos povos coloridos, cantantes e de fartura, logo, nossa revolução vai se dar dessa forma. A quem se incomoda com isso, restam duas opções: ou se unem a nós ou vão perder a guerra. Inimigos são sempre inimigos, mesmo depois da derrota.