Todo final de ano, a gente encerra o período que passou com votos de que o próximo seja melhor. Entramos em um ritmo alucinado de compras, nos endividamos para presentear quem gostamos, fazemos um variado cardápio alimentar que sempre tem arroz com passas e outras iguarias. Porém, tenho a impressão de que esse ano o mercado está menos aquecido. Madureira, que possui um dos centros de compras mais populares do Rio de Janeiro, não parecia um formigueiro de gente.
Ao que me parece, estamos endividados antes mesmo das festas de fim de ano e por vários motivos: os trabalhadores do Estado não recebem e o digníssimo governador Pezão não se mostra nada preocupado, assim como o excelentíssimo prefeito Crivella, que essa semana foi visto, fotografado e publicizado fazendo compras no exterior – enquanto os servidores do município não podem assegurar nem as necessidades alimentares mais básicas de suas famílias.
Não sou a mais adepta dessas festas, tampouco a mais empolgada, mas, a cada dia, recorrendo aos estudos sobre meus ancestrais negrxs que foram escravizadxs, entendo por que nós brasileiras e brasileiros fazemos tantas festas. São elas que nos permitem sorrir, estar entre amigxs, comer fartamente, tomar “o gelo” da semana, enfim, confraternizar entre xs nossxs.
Por outro lado, penso que, além de festejar, temos que nos rebelar. Não podemos continuar a assistir de camarote toda a ofensiva que esses governantes (em esfera nacional, estadual e municipal) estão nos fazendo. Em 2016 e 2017, tivemos mais regressos que em uma década inteira. Estão retirando todos os nossos direitos. Daqui a pouco, estaremos pagando para trabalhar. Todos aqueles que deveriam nos representar na presidência, no Senado, nas câmaras legislativas, nas prefeituras estão descaradamente usurpando o fundo público. Enquanto isso, vemos desmoronar a rede de atendimento a saúde, educação, transporte, entre outras necessidades do povo.
A história do povo brasileiro é de muita luta. Desde os povos originários aos negrxs que foram escravizadxs, sempre reagimos e lutamos para estar vivos. Precisamos estar mais uma vez enfileirados e de punhos erguidos para tomar de volta tudo o que é nosso. Se somos nós trabalhadoras e trabalhadores que tudo produzimos, a tudo temos direito. Precisamos repensar essa forma social, pois a solução não está em eleger novos candidatos. Não se trata somente de bom ou mau caratismo, mas, sim, de alterar essa estrutura que é corrupta e eternamente comandado por brancos.
É necessário fazer uma verdadeira revolução se quisermos reservar um bom futuro aos nossos, uma vez que os poderosos estão dispostos a qualquer coisa por lucro, até mesmo a utilizar todos os recursos naturais. Corriqueiramente, ouvimos que, em breve, viveremos uma guerra por causa de água.
E, embora os grandes industriais esgotem todos os meios naturais de forma insustentável, quem já paga essa conta somos nós moradores de favelas, pois temos dias específicos para que “caia a água”, como me disse uma vizinha. No caso dela especificamente, cai às quartas-feiras e domingos. Esses são os únicos dias que ela tem para limpar a casa e lavar roupa – do contrário, ficará sem água até mesmo para beber. Tenho vários conhecidos que moram na Zona Sul, e esse tipo de relato não faz parte das falas deles…
Para finalizar, quero dizer que somos povos de lutas e de conquistas, e que aproveitemos essas festas para tomar um gás de ânimo – que, em 2018, a gente possa começar com tudo para retomar o que é nosso. Sabemos que será um ano emblemático tanto pelo agravamento da crise política e econômica em que estamos vivendo como pela luta diária para estarmos vivxs, mas é importante lembrar que será um ano de eleições.
Teremos nenhuma opção que realmente possa nos representar e fazer melhorias em nossas vidas, mas é fundamental que saibamos que, por mais que estejamos desacreditados, não podemos a recorrer a candidatos fascistas como certos “bolsominions”. Esse tipo de gente odeia pobre, preto, favelado e quer nos ver mortos. Uma das promessas do tal candidato que não será aqui citado é armar ainda mais a polícia – essa mesma polícia que nos mata diariamente, e que é responsável por boa parte dos mil homicídios do Rio de Janeiro só em 2017.
Quero desejar a todas e todos boas festas, muita alegria, felicidades e surpresas boas, e que comecemos o ano novo como combatentes, pois vamos precisar para nos manter vivos. Que venha 2018!