O ano de 2018 inicia e, ainda que o calendário cristão seja apenas um consenso, sempre temos a sensação de um novo recomeço para fazer tudo aquilo que não conseguimos realizar anteriormente. Por um lado, é cômodo deixarmos algo para o futuro, mas, por outro, é preciso fôlego para retomar às árduas tarefas. Particularmente penso que, após 2016, essas viradas de ano têm sido fundamentais para reunirmos forças e continuar a caminhada da vida.
Para quem acredita, o ano de 2018 será regido por Oyá (orixá guerreira, senhora dos ventos e das tempestades), Xangô (guerreiro da justiça) e Exú (o senhor dos caminhos) Ao que tudo indica, teremos bons ventos e estaremos bem acompanhados e regidos. Porém, é importante lembrar que toda crença, seja ela qual for, necessita de impulsos e ações humanas para que, na vida material, tenhamos realizações positivas. Então, de acordo, com a nossa ancestralidade e com as religiões de matriz africanas, teremos oportunidade de colher aquilo que plantamos, e, dentre esses orixás, poderemos escolher o que queremos de frutos, de resposta deles.
Ao iniciar por essas duas questões, quero ressaltar que precisamos nos cuidar, nos proteger, nos fortalecer, e dado que estamos vivendo numa sociedade em que as vidas têm sido ceifadas das formas mais violentas, é preciso que nos apeguemos a algo que nos permita criar forças e seguir adiante. Não quero mistificar o mundo e tampouco dizer que a crença levará ao paraiso, mas quero destacar a necessidade de nos mantermos vivos, pois precisamos lutar para mudar essa sociedade.
Em fins de 2017, uma colega de profissão sucumbiu a esse mundo que nos destroça, nos destrói e pôs fim à própria vida. Uma mulher preta – e não é coincidência –, ainda muito nova, bonita, uma referência intelectual, não suportou essa vida que insiste em nos cortar ao meio e, como pararaseou um poeta, “quis pôr fim ela mesma”. Não a conhecia pessoalmente, apenas a tinha como referência. Quando soube, minhas pálbebras caíram, minha mente ficou pesada. Chorei.
Sim, chorei por alguns minutos. Não por algum tipo de juízo valorativo a respeito de sua ação, mas, sim, porque uma sociedade em que as pessoas preferem a morte à vida é uma sociedade que está mal das pernas. São inúmeros os casos de suicídio. Dias desses vi em algum veículo de comunicação que essa é a causa de morte em ascendência, principalmente entre os jovens. Ora, vejam, que rumos societais são esses em que a juventude não vê qualquer futuro? As grandes mudanças sociais foram protagonizadas pela juventude. Quem já passou sabe o quanto temos coragem, força, energia para fazer tudo, tudo mesmo. Agora, vemos que esse segmento populacional quer morrer.
Não podemos naturalizar o suicídio, temos que promover a vida. Precisamos retomar a poesia do amanhecer, voltar a admirar o nosso Rio de Janeiro, que continua lindo. Não quero dizer que isso deva ser uma prerrogativa pessoal para querer estar bem quando o mundo desaba ou ignorar tudo o que vem acontecendo no país a nível federal, estadual e municipal. Quero dizer que precisamos unidxs lutar pela vida, por uma sociedade em que a garantia de satisfação das necessidades humanas seja superior ao mundo do dinheiro, que nossas crianças, adolescentes e jovens possam ser recebidos com amor e cuidado.
Com isso quero convocar a todas e todos a nos levantarmos a participar de todas as mobilizações que devem ocorrer nesse ano: contra o aumento das passagens e por melhores condições do transporte coletivo, pela educação, contra o Caveirão enquanto estratégia de segurança nas favelas etc. Não podemos esquecer ainda que no dia 18 de janeiro tem a mobilização dos trabalhadores da saúde. Precisamos engrossar as fileiras nessa luta, pois a saúde é nossa.
Enfim, comecemos esse ano com vitalidade, força, disposição para as batalhas, pois penso que, de fato, após o temporal, vem a lua cheia. Haveremos de admirar lindamente essa lua, que sempre nos mostrará a imensidão do céu, e é lá que deve estar o nosso limite. Não pararemos até conquistar um mundo que esteja pronto a receber crianças e poesias! Epahey!