Não é de hoje que jornalistas dos grandes veículos de comunicação se posicionam nas favelas utilizando colete à prova de balas. Este é um procedimento padrão de segurança para os profissionais da grande mídia depois de alguns episódios em que jornalistas acabaram baleados em meio a confrontos. Tal procedimento, porém, vai além da proteção da vida dos jornalistas, pois forja um cenário de guerra.
Cada vez menos comprometida com os interesses da sociedade e mais vinculada a interesses mercadológicos e empresariais, a grande imprensa, muitas vezes, cria cenários e carrega nas tintas para vender uma imagem que não é semelhante à vida real. Um exemplo disso é quando ligamos a televisão e assistimos aos jornais de grande audiência. É comum ver jornalistas altamente paramentados entrevistando pessoas dentro de suas localidades na favela. A diferença é gritante: de um lado, o jornalista de colete à prova de balas, do outro, o entrevistado, morador da favela, com sua roupa habitual, seguindo o curso da vida.
Há relatos de casos em que o cameraman que capturava as imagens estava sem o colete, enquanto o repórter usava o artefato em frente às câmeras. Essa é uma cena que denuncia a manipulação dos grandes veículos midiáticos perante a sociedade. Essa é uma sociedade pobre, que cada vez mais necessita de informações verdadeiras que favoreçam sua construção social de igualdade; mas, para que isso aconteça, é necessário o grande empenho de veículos de informação independentes em capturar informações que desconstruam as falsas impressões impostas pela grande mídia corporativa.
Só assim a chance de construirmos ações práticas através da informação nos proporcionaria um diálogo direto com nossos irmãos, afastando os mentirosos e oportunistas de nossas ações e iniciativas.
Publicado na edição de fevereiro no jornal A Voz da Favela.