“Tempestuosa Depressagem” é a performance artística que retrata as nuances e desdobramentos da síndrome do pânico e da depressão em mulheres negras com foco na dificuldade que elas têm de assumir e admitir as subjetividades da saúde mental. A performance estará em cartaz, nos dias 6 e 7, às 19h30, no Centro Coreográfico da Cidade do Rio de Janeiro.
A curadoria é de Flavia Souza, que é, também, a atriz principal do espetáculo, em que narra através de uma dramaturgia verbal e corporal, relatos próprios e de outras mulheres negras com experiências semelhantes. Além das próprias experiências corporais e psicológicas de quando foi acometida pela síndrome do pânico.
A depressão, o mal do século XXI, atinge todas as faixas populacionais, porém por conta de um racismo histórico e estrutural, estas subjetividades humanas foram negadas à população negra.
A proposta é a de trazer à tona essa discussão e, ao mesmo tempo, poder humanizar esses sofrimentos a fim de que a problemática seja percebida por todos e como um alerta para aqueles que sofrem, nesse momento, com a doença para que procurem ajuda.
“Tempestuosa Depressagem é uma performance que dialoga com as vivências subjetivas do ser humano. Estas sensações são de difícil compreensão para a maioria da população. E nós, da população negra, temos a dificuldade de assumir e admitir quando somos acometidos psicologicamente. Desde a época do navio negreiro, a população negra já sofria e se suicidava por depressão, na ocasião chamada de banzo, e tida como um mal que só acometia aos escravizados. E assim nada foi feito para combater a patologia da relação mente e alma. E os pretos foram como sempre deixados de lado, e sem o condicionamento para reconhecer o problema, eles tiveram potencializados seus distúrbios, pois o direito à humanidade foi negado”, explica Flavia.
“No que diz respeito às mulheres negras, a sociedade brasileira se condicionou a uma cobrança excessiva pregando que esta é uma fortaleza ambulante e não sente nada conseguindo lidar bem com tudo. Segundo Djamila Ribeiro, por conta das violências pelas quais as mulheres negras passam, criou-se o mito da mulher negra forte, guerreira, que enfrenta tudo. Mulheres negras precisam ser fortes porque o Estado é omisso e desumano, porque, também, não reconhece nelas suas fragilidades que são próprias da condição humana. Sabemos que esta é uma construção racista e que traz uma ideia de que somos mais objeto do que humanos. Percebi que ao lidar com a saúde mental o problema é invisibilizado e silenciado entre a população negra. O autocuidado é praticamente inexistente e isto é herança que o banzo nos deixou”, completa.
Flavia Souza criou em 2017 MOVIMENCURE (movimento que cura). O Movimento tem como proposta debruçar e pesquisar sobre essa patologia na qual a própria foi vítima e a partir das manifestações culturais, circulares e acolhedoras, onde movimenta a energia que cada ser carrega em si, encontrando uma possibilidade de cura e trazendo dessa maneira uma reflexão através da ancestralidade.
“Através de pesquisas e oficinas, montei um pequeno fragmento solo, com participações e intervenções de vídeos com relatos sobre saúde mental, psíquica, sobre a construção de um ser forte, sobre a dificuldade que pessoas, principalmente, negras têm de admitir que esteja sofrendo e precisando de cuidados e sobre como, onde e quando podemos e devemos buscar ajuda. É sabido que o corpo fala e dialoga sobre tudo, sobre cura, angústia e ancestralidade”, finaliza.
O projeto Tempestuosa Depressagem foi contemplado no I Prêmio Cultura + Diversidade da Secretaria Municipal de Cultura.
Serviço:
Tempestuosa Depressagem
Datas: 6 e 7/4
Horário: 19h30
Local: Teatro Angel Vianna – Centro Coreográfico da Cidade do Rio de Janeiro. Rua José Higino, 115. Tijuca.
Evento: Gratuito
Classificação: Livre
Facebook: https://www.facebook.com/events/2081872308502319/