Ignorância e autoestima branca: duas combinações medíocres

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Durante as duas última semanas, infelizmente visualizei um post no Facebook que dizia algo muito tosco e era mais ou menos assim: “Fulana de tal, policial militar, mulher, branca, olhos azuis etc., assassinada e não causou comoção nacional”. Muito provavelmente o seu idealizador contestava sobre os atos em memória e justiça por Marielle.

Ao ver o post senti o que, comumente, meus pares chamam de vergonha alheia. Pois bem, num país que teve o uso da força de trabalho escravizada legalmente por quase 400 anos e que ao “libertar” esta população sequer garantiu condições de vida mínima, décadas depois da suposta abolição da escravatura, seus cientistas racistas desenvolvem o projeto de eugenia, isto é, um projeto que visava embranquecer a população brasileira, mesmo que isso custasse vidas negras. E qual foi o resultado de tudo isso?

Vivemos num Brasil em que 54% da população é negra e compomos 80% da população pobre. Somos os que mais morremos por armas de fogo e também pela violência doméstica. Somos aqueles que as forças armadas denominam de sujeito padrão de ser revistado. Somos, também, aquelas pessoas que ao entrar em lojas somos seguidos pelos seguranças. E não podemos nos esquecer das negras e negros mestres, doutores que são “confundidos” por brancos nas universidades como serviçais.

Desse modo, sugiro que você branca e branco, para diminuir o quociente de ignorância, que de acordo com o dicionário é falta de saber/ciência, busque a história, saiba quem tem sido assassinado diariamente, inclusive, o número de policiais negros assassinados e que não causam sua indignação. Entenda que vivemos em uma época em que a população negra tem acentuado a luta contra o racismo e, por isso, vocês brancos serão mais o centro das atenções no Brasil e no mundo. Perceba que se não são culpados diretamente pela escravização, hoje gozam dela e são herdeiros desse roubo histórico à população negra.

Saiba que o seu reinado acabou e que somos milhões. Mataram Marielle. Sim, perdemos nossa irmã, mas entenderam o que fizeram? Enterramos Marielle, mas vocês não sabiam que somos sementes. Marielle vive e renasce todos os dias. Por isso, vai doer sim, pois perder privilégio é dolorido e além do mais, é perder conforto. Sim, queremos tudo o que construímos, pois fomos nós negras e negros que edificamos esse país e se construímos é tudo nosso. E fiquem ligados, pois isso é só o começo de nossa revolução!