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Pois é… bem que eu queria. Toda semana é esse mesmo sufoco. Prometo que vou escrever o texto a tempo, que vai ser um texto assim, um texto assado, que vai ser um assunto impactante. Até que as horas passam e entre tantas coisas para compartilhar, acabo por escrever um grande nada. Penso em sair, fingir que não tenho nenhum compromisso e aceitar o convite para ir ao samba, que acabou de chegar via whatsapp.
E sabe, aquele texto reserva, para a hora da emergência? Vasculhei minha caixa reserva e percebo que já foi usado.
Parece uma tarefa fácil, mas a verdade é que não é.
Entregar ideias em um texto legal, bem produzido e que faça alguma diferença para quem o lê e que depois de todos os argumentos e citações possíveis, me parece um assunto batido, repetitivo demasiadamente.
Como dizer para você alguma coisa nova? Algo que você não saiba ou que precise realmente perceber? Como chegar ao centro da sua necessidade e gerar alguma transformação através das palavras? É como ouvi a Cris dos Prazeres (uma mulher à frente do nosso tempo) citar esses dias: “Que empoderamento é esse que a gente ousa dizer que dá, que compartilha, que ensina?”
Sempre penso que devo falar do que vivo ou do que sinto como forma de tornar essa escrita cada vez mais próxima de quem lê.
Dou-me conta, a cada dia vivenciado, que essa exigência de perfeição, somos nós as primeiras pessoas que nos impõe vivenciar. Quantas vezes a gente nem precisa de inimigos, já que caímos na ideia equivocada de que não devemos nos permitir falhar?
Como é que você lida com isso?
Somos cobradas(os) a todo o tempo. Todo mundo tem que pertencer a algum grupo de empoderamento em todos os quesitos. Ser protagonista, assumir a postura heróica e etc. Mas e nas horas em que o cansaço bate a tal ponto do teu corpo gritar? Até o Raio Negro (herói das histórias em quadrinhos da editora Marvel) tem sua fraqueza, onde mesmo transformando a sociedade com ou sem armadura, tende a questionar suas ações por medo do mal que sua família sofrerá. Mesmo, este sendo um super herói 24 horas por dia.
Essa semana eu trabalhei pela manhã, perdi a parte de um compromisso importante e sai correndo em direção ao metrô. Parecia estar no piloto automático. Depois de algum tempo em pé, surgiu um lugar (milagre!). Sentei, comecei a folhear um livro e perdi a noção do tempo. Eu estava tão cansada que por alguns minutos, mesmo percebendo que já havia passado da minha estação, resolvi não ligar. Me entreguei mesmo. Desci e segui a passos vagarosos como se nada mais pudesse interferir na minha decisão de ter o meu tempo!
Mas o tempo, por vezes, é uma armadilha. Uma armadilha que nos diz que temos escolhas. E a gente tem, mas não tem ao mesmo tempo.
Confuso, né? Sim! Essa vida elástica que hora nos solta e hora nos puxa de volta, nos faz ser livres. Mas nos diz que não temos tempo de sair da pista. Que nos manda mensagens subliminares para informar que escolha não é, e talvez nunca tenha sido, uma opção.
Fui percebendo como o meu corpo me dava sinais.
Aos 30 anos de idade, meu corpo mudou, algumas coisas não saíram como planejadas, outras nem sequer chegaram a acontecer da forma natural e tantas outras me pegaram de surpresa.
Essas percepções foram me ajudando a preparar meu corpo para a pressão que estava por vir. Mas nem sempre ouço meu corpo.
Será que estamos atentas(os) aos efeitos colaterais que a sociedade tem nos apresentado? Falando em nível de militância, seja ela racial, de gênero, classe ou poder na sociedade. Estamos atentos para as pautas nas quais investimos nosso tempo?
Nossa caminhada tem sido equilibrada?
Ajuda muito se tomamos consciência de que toda e qualquer luta precisa ter as horas de compensação. Que nosso corpo tanto necessita para seguir livre, saudável e estável nesse processo eloquente e frívolo de uma sociedade que nos adoece com seus argumentos e não nos permite desistir, mesmo que a gente queira. Mesmo que tenhamos esse direito de fato, mas nada nos traz a garantia desse direito.
O caminho é quase todo preestabelecido. Sobre isso, há muitas discussões. Mas será que estamos nos preparando para receber o que virá, de sucesso… ou de obstáculos no caminho?
Se é tempo o que nos falta e luta é o que nos resta, qual o tipo de vida que estamos levando durante o processo de buscar o equilíbrio da vida contemporânea?
Será que tem tempo pro rolê?