Por Charles Monteiro e Fabíola Alves
Ao ler as redações de alunos do ensino médio, manifestando o sonho de atuarem na área médica, somada à falta de alunos para preencherem as vagas no colégio, foi que a diretora do Colégio Municipal Clóvis Monteiro, Andreia Queiroz, decidiu criar um pré-vestibular comunitário direcionado ao curso de medicina, no Jacarezinho.
“Foi por meio da redação, aplicada nos tempos vagos, em que eu perguntava “onde você quer estar daqui a 10 anos?”, não aceitando texto com menos de 20 linhas, onde eu vi que tinham muitos alunos que gostariam de serem médicos”, conta a diretora.
“Uma delas quer ser obstetra, porque não quer deixar nenhuma paciente morrer”, completa ao relatar o trecho de uma das redações escrita por uma das alunas do colégio.
O Pré-Vest Clóvis, que no ano passado aprovou até o momento sete alunos, em sua maioria para a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em 2018 pretende inovar. De acordo com a diretora, a ideia é adotar o formato aulão como todo e qualquer tipo de assunto, além de trabalhar com profissionais de yoga e meditação para os alunos ficarem menos nervosos, mais calmos e concentrados durante as provas.
Andreia acredita que se um aluno estiver preparado para a prova de medicina, que exige alta pontuação, o aluno pode entrar em qualquer curso. “Se o aluno está procurando uma pontuação de 900, o curso que pode ter essa pontuação é de medicina. Então, ele pode passar em qualquer um”, afirma.
O pré-vestibular, além das disciplinas tradicionais e as orientadas, como Matemática, Biologia e Química, vai oferecer, também, aulas de planejamento financeiro, comunicação não-violenta e o que mais estiver em discussão na atualidade.
“Chegar à graduação no Jacarezinho é muito difícil. Assim como a favela precisa de advogados, engenheiros e geólogos, a gente precisa de pessoas que melhorem as condições da favela”, conta Andreia.
As aulas do Pré-Vest Clóvis são todos os sábados e começaram dia 7 de abril, a partir das 9h até às 18h, com café da manhã, almoço e lanche. As aulas são gratuitas e tem o apoio da Associação dos Servidores da Fundação Oswaldo Cruz (Asfoc), que doa ônibus para os passeios culturais e camisas, criando uma identidade para o Pré.
“Minha meta é que eles retornem para a sociedade que os sustentou, para o povo da favela, o conhecimento que eles adquiriram”, diz a diretora, confiante em um futuro melhor para esses jovens alunos e para as favelas.
“A ascensão social de um aluno não vai passar, necessariamente, pela faculdade, mas ele tem o direito de ser o que ele quiser.”