Ontem nos reunimos em confraternização em mais uma edição do REP – Ritmo e Poesia no nosso Jacaré. Tivemos o percalço para garantir a estrutura de som, mas com muita perseverança, obstinação e dedicação profissional da galera, conseguimos garantir mais uma excelente tomada cultural. Não havia dessa vez grandes convidados e nem os tradicionais sambistas que sempre empunham belas canções, mas o comparecimento dos poetas, o funk e as intervenções de Rumba, sempre fazem valer a pena.
Quando rolava uma base para a entrada dos arriscadores de versos em funk, íamos ganhando a criançada para soltarem as suas vozes e brincarem no mundo da arte. Como na favela tudo é muito complexo e tênue, no que separa o sublime e o grotesco, algumas crianças corriam, em volta do nosso palco de praça, empunhando armas com cara de verdade, mas com funcionalidade de brinquedo.
A primeira coisa que pensei, era porque ainda fabricarem esse formato de plástico preto e que maldade maldita falar que é um brinquedo e direcionar ainda para as crianças. Que irresponsabilidade dos governos! Sempre eles os culpados desde o início. Armas de brinquedo em condomínios de luxo são perigosas, na favela são trágicas.
O REP, dentro do Jacaré, tem responsabilidade de conscientização, união, amizade e se fortalece cada vez mais como propagador das vozes silenciadas. Temos muito orgulho das inscrições, ANF, em grafite, na entrada da nossa sede e para nós é território cultural ocupado. Como dizia um grande sambista, ali se derrubar é pênalti!
Não existe, para qualquer um que vista a camisa da ANF, ficar indiferente e deixar de disputar os corações e mentes daqueles que podem subir as estatísticas do Jacaré, de ser a favela com maior número de pessoas formadas no ensino superior. Mas ainda podem continuar a ser parte de um Jacaré, que alavancou grandes artistas e músicas que ganharam o mundo. Para isso era necessário tentar desarmar as crianças ou então, com as nossas indiferenças, deixar que, ontem, pegassem os caminhos tortuosos da vida e dessem mais um passo, que podem levar a desfechos tenebrosos.
Quando o microfone substitui, mesmo que em um raio de segundo, as armas de brinquedo, pode se comemorar, pois foi um grande dia. Assim foi ontem quando catamos três armas dessas de brinquedo, com uma cara horrorosa de pistola e ganhamos a molecada para guardarem em casa e voltarem e voltaram, para soltarem as suas vozes na Praça da Concórdia. Não sei exatamente o que se passou na cabeça daquelas crianças, mas naquele momento, trocaram a brincadeira de bandido pela vocação do local, celeiro e caminho de muitos artistas. O verdadeiro Jacaré!
Para as grandes lideranças da ANF, que lá estavam cuidando dessas crianças, o Ritmo e Poesia de ontem pode ser considerado um dos melhores do ano.
Até daqui a quinze dias e dessa vez com panfletagem…