Eu deveria falar do casamento de Meghan Markle

Foto: Pedro Gualandi

Que tal ouvir uma música enquanto lê esse texto?
https://www.youtube.com/watch?v=V-G7LC6QzTA

Desculpe-me a demora em lhe escrever querido/a leitor/a. Posso lhe chamar assim, certo? Afinal, como bem me lembrou uma amiga, já escrevo aqui há quase um ano e apesar de nosso encontro ser semanal, vez ou outra me sinto culpada por não ter começado a lhe escrever mais cedo, para que assim pudesse te dar mais clareza de emoções, sensações e experiências do que tenho vivido e quem sabe perceber nossas vivências se esbarrando.

Desde que comecei a escrever, quando tinha por volta de 10 anos de idade, me comprometi a falar de amor e coisas positivas, mas com o tempo esse amor se viu melancólico ao descobrir que o mundo, não era assim como os livros de poesias que eu costumava folhear.

Ao me convidarem  para esse portal, me questionei se teria a facilidade de dialogar entre tantos colunistas que escrevem e falam de suas realidades com tanta maestria e afinco.
Recuei algumas vezes e me recolhi ao quase acreditar que, minhas palavras pareciam mais de uma garotinha assustada do que de uma mulher chegando aos 31 anos de idade.


Será que eu não sei ser, quem eu realmente sou? Será que minhas palavras na verdade, não dizem nada? Quem nunca se viu estrangeiro na própria história?


Com o passar do tempo, minha visão lúdica do mundo foi sufocada pela realidade imposta e por alguns períodos, perdi o foco. Ao iniciar o texto para esse sábado, me questionei mais uma vez.

“Eu deveria falar do casamento de Meghan Markle na Inglaterra ou sobre a greve dos caminhoneiros em relação ao aumento da gasolina no Brasil, quem sabe um belo texto sobre a escalada de Mamoudou na França. Preciso falar sobre coisas que todo mundo quer saber…”

Foi então que umas perguntas pairaram sobre a minha cabeça cheia de histórias.
O que você quer de fato saber? O que nós desejamos ler nas notícias? Sobre o que gostaríamos de escrever? Quais imagens desejamos visualizar e memorizar?

Quanto mulher, desejo ter a liberdade de falar sobre qualquer coisa, quanto mulher negra eu desejo ser vista como alguém que pode, além de falar sobre qualquer assunto, ter propriedade sobre eles.
Artes, história, música, cultura, tecnologia, física, matemática, futebol, games ou carros. Que seja!

Desejo ter a liberdade de amar qualquer pessoa, sem que isso seja visto com maus olhos. Que possamos dialogar para além dos fuzis e das misérias que nos empurram, que são pautas urgentes e importantíssimas, mas que tenhamos a escolha de manter o foco em viver, além de sobreviver a tantas tragédias diárias.

Precisamos voltar a olhar além da linha, bem além do que nos ofertam, cuidar sobre o que nos afetam. Nós precisamos nos manter atentos ao que desejamos. Caso contrário, muito em breve estaremos perdidos e sem foco, somente diante daquilo que ainda nos sobra.

Te desejo, ao fim desse texto que você faça uma reflexão sobre quantos carnavais perdemos, quantos beijos não demos, quantas manhãs acordamos só e nem se quer dizemos: “Eu te amo demais” simplesmente por estagnar em uma pauta que não é nossa, ao menos naquele momento. Por viver uma visão deturpada de quem realmente somos e queremos ser!

“E Je suis ici, ainda que não queiram não
Je suis ici, ainda que eu não queria mais
Je suis ici agora.”Luedji Luna
Que possamos ser mais que um corpo no mundo e dizer Je suis ici! Eu estou aqui e é aqui que desejo estar.

Aproveita e dá uma passadinha pelo meu primeiro vídeo em terras portuguesas e me segue no instagram.