O presidente Michel Temer decretou uma Intervenção Militar no Rio de Janeiro. É um expediente previsto na Constituição, embora nunca tivesse sido usado até então. Devido à crise da segurança pública que se alastra em todo o estado. A Intervenção se baseia no procedimento regulado pelos artigos 34 e 36 do capítulo 6 da Constituição. Em resumo: visa manter a integridade do território brasileiro, reorganizar as finanças de uma Unidade da Federação ou repelir uma intervenção estrangeira.
Vale lembrar que essa intervenção tem prazo, metas e hora para acabar.
Gostaria de saber como chegamos a este ponto. Aliás, eu sei, essa resposta nunca quer calar.
A violência cresce a cada dia, de forma alucinante na cidade carioca. O Rio de Janeiro é mesmo uma cidade partida. Parece coisa de argumentos maniqueístas, a luta do bem contra o mal. Embora com mais requintes de crueldade. Quem está ganhando essa guerra? Lembro-me da letra da canção: “Cidade maravilha, purgatório da beleza e do caos”.
Estatísticas demonstram que a Intervenção Federal não logrou o êxito esperado. Nunca é tarde para lembrar que a Intervenção foi também um golpe de marketing de Temer, juntamente com o Governador Luiz Fernando Pezão (ambos do MDB), isso tendo em vista que a sociedade brasileira vem sofrendo com uma aguda crise de representatividade nas várias esferas de poder, somando-se a isso um clamor de cunho autoritário por Intervenção Militar e até mesmo pela volta da Ditadura.
O circo armado por Temer mais parece um jogo de gato e rato. A turma do “bonde” some e depois aparecem os homens, logo depois da casa arrombada. Sejamos claros, quem mais sofre são as comunidades carentes, convivendo diariamente com fuzis, tanques e confrontos. Embora saibamos que a casa caiu há tempos, todo o dinheiro investido na Intervenção Federal podia ser dedicado à melhoria das polícias civil e militar, sucateadas pela má gestão pública.
Uma outra questão em voga: o policiamento de combate e repressão ao tráfico por água abaixo. Assim como as UPPs, a Intervenção Federal foi um tiro no pé, e morre agonizando de desgosto, pois deveria ser reformulada com uma polícia que agregasse valores e, juntamente com isso, políticas públicas no seio da favela. O atendimento rumo ao outro. Aliás, a construção do sujeito em indivíduo se desenvolve na chamada relação: Eu e o Tu. Ou seja: o outro faz parte da minha construção como pessoa e vice versa. A sociedade se faz numa via de mão-dupla dentro deste grande espaço que é a cidade. Para entender e perceber o indivíduo dentro da sua espacialidade, dentro do seu ambiente de convívio. Do contrário, é um trabalho de enxugar gelo.
O Estado deveria dialogar com os moradores das Favelas. E deste modo, buscar ouvi-los. Assim encontrariam ali gente com anseios e sonhos. Uma gente que vale cada suor e que tem uma capacidade de se reinventar e ver uma luz no fim do túnel, mesmo com todos os percalços. Afinal, quem navegou em becos e vielas, não se assusta com as vicissitudes da vida. O estado deveria aprender – e muito – com os moradores da Favela. Um trabalho de ouvir o outro e tentar compreender suas demandas. A Intervenção Federal devia vir atrelada a uma Intervenção Cultural. E isso a Favela tem de sobra para ensinar. Por isso a Intervenção não deu certo.