Essa semana causou impacto nas pessoas os atos racistas praticados por estudantes de direito da PUC – Pontifica Universidade Católica do Rio de Janeiro – que arremessaram cascas de bananas e gritaram palavras racistas direcionadas a estudantes do mesmo curso, negros e de faculdade públicas.
Tal ato gerou uma branda punição a instituição, com a perda de seu título de 2018 e a exclusão da próxima edição dos jogos jurídicos. A repercussão foi grande, seja na imprensa ou nas redes sociais, a desaprovação foi quase unânime. Até ai tudo bem, a questão que fica é, até que ponto podemos encarar esse fato e dizermos surpreendidos?
Vivemos um país racista, convivemos com um racismo estrutural em que negros ganham menos, morrem mais, são a maior parte da população carcerária e estão excluídos dos espaços de poder, sobretudo o jurídico e político. Se você fizer uma pesquisa no Google e digitar “dreadlocks bonito” aparecerá uma pessoa branca, se digitar “dreadlocks feio” aparecerá um negro – certo que a pesquisa ultrapassa o âmbito nacional, mas demonstra como o racismo estrutural é ainda mais amplo.
O fato se refere a estudantes do curso de direito, e já falei muito aqui, como membro do mundo jurídico, de como o seu tom de pele influencia na sua vida a partir do momento que entra para ser julgado pela justiça desse país. Brancos tem maiores chances de serem liberados em uma audiência de custódia e negros tem penas maiores para crimes análogos em comparação com brancos.
Esses alunos nada mais são que reflexos da nossa sociedade e, conseqüentemente, do nosso sistema judiciário. Eles irão nos julgar em breve, sobretudo o povo negro que é clientela do sistema penal. A estrutura racista do judiciário se renova a cada dia, prova disso são os atos racistas desses estudantes de direito da PUC-RJ. São eles que irão julgar o povo negro amanhã, dá mesmo para esperar por justiça para outros Rafael Braga que, infelizmente, o sistema penal irá criar? Se você está assustado por ver estudantes brancos de direito jogando bananas em estudantes negros é porque não imagina o que eles irão fazer com pessoas negras depois de formados.