Eu me chamo Priscila, mas isso provavelmente você já sabe. O que você não sabe é que durante a minha viagem a Portugal, no último mês, eu entendi que estava há tempo vivenciando o transtorno de ansiedade.
É sobre isso que eu desejo te falar hoje, mas esse é um assunto bem amplo e o que vamos fazer aqui, é apenas pincelar o tema, já que eu não sou uma especialista na área e estou contigo nessa jornada de ficar mais consciente sobre os reflexos do nosso corpo.
Lisboa
Quem me viu passeando bem em frente ao Teatro Nacional D.Maria II, ou andando pelos castelos da Quinta da Regaleira em Sintra, não fazia ideia de como eu estava alguns dias antes.
No quarto do hostel onde eu estava hospedada, acordei com falta de ar, angustiada, exausta e apenas com vontade de dormir. Como assim? Eu passei a vida planejando a oportunidade de viajar. Esse episódio tinha causa, não era isolado e se chamava crise de ansiedade ou transtorno de ansiedade.
Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), em média 9,3% dos brasileiros sofrem de transtorno de ansiedade e o Brasil é o país que lidera o ranking de pessoas com transtornos de ansiedade no mundo e o quinto em casos de depressão.
É justamente em períodos de transição, adaptações e decisões, que a doença psicológica pode surgir através da falta de foco, falta de ar, choros incontroláveis ou perda de sentido naquilo que outrora amava realizar.
Seja na infância, na adolescência com as transições ou na fase adulta, onde a vida pessoal geralmente se entrelaça com a profissional, gerando cobranças e frustrações que a ansiedade toma forma. O impacto de excesso de trabalho, informação full time e autocobrança demasiada, está nos levando ao colapso.
Eu havia embarcado e já estava me deliciando há 3 meses, planejando esse momento. Sonhei durante anos com a possibilidade de realizar minha primeira viagem internacional e melhor ainda, através de uma empresa e pessoas que acreditavam na minha capacidade.
No geral, não houve cobranças a não ser “Aproveite a viagem”. Mas eu estava tão apavorada para que tudo desce certo, que isso foi o que menos fiz. pelos menos nas duas primeiras semanas em que estava em solo português.
Falta de ar durante o dia, cansaço ao acordar, sensação de incapacidade profissional e medo de não dar conta. Eu estava tendo uma crise de ansiedade em plena viagem.
DESEQUILIBRIO
Foi sentada no sofá da sala, tentando buscar foco para o que eu precisava fazer, que um dos sócios da empresa, após me observar durante aqueles dias me fez um pedido: “Eu preciso que você respire”. A solicitação me pareceu uma piada, mas ao olhar para a expressão dele entendi que se tratava de algo mais sério do que eu poderia imaginar.
Minha vontade era apenas andar a beira do Rio Tejo, jogar o celular bem no meio do mar e sumir ali mesmo. Eu não entendia porque não estava dando conta de uma simples planilha ou de coisas que eu sabia fazer com as mãos atadas, se fosse preciso.
Tomei um banho, sentei na cama e respirei. Preparei um chá, desliguei o celular, aproveitei o fim do dia de trabalho, me desconectei e comecei uma espécie de mantra. Entrei em conexão comigo mesma e essa foi a tarefa mais difícil que eu precisava fazer naquele momento. Eu precisava colocar as emoções em equilíbrio.
Eu realmente me sentia desequilibrada e sem controle das minhas ações emocionais e embora hoje eu tenha um privilégio de trabalhar com pessoas que compreendem e estudam sobre questões emocionais em ambiente de trabalho, não é a realidade da maioria das empresas brasileiras, na prática nem sempre foi assim.
Uma pesquisa feita pela ISMA – BR revelou que 72% dos brasileiros estão insatisfeitos com seus trabalhos e 61% se encontram desmotivados, resultado da intensa jornada de trabalho somatizada com as demandas impostas, que há 15 anos atrás deveriam ser feitas por três pessoas, por exemplo.
Comigo não foi diferente, trabalhando desde os 15 anos e hoje prestes a fazer 31, já parei no pronto socorro com duas veias rompidas por excesso de trabalho. Exausta da carga diária, a única coisa que fiz foi repousar por 2h, na sala de espera da unidade de pronto socorro, que na falta de médico especialista me enviou de volta para casa. O que eu fiz? escolhi retornar ao trabalho. Afinal de contas, nós não podemos colocar nosso sustento em risco.
Certo? Talvez não estejamos tão certos assim quanto a isso.
Mas se hoje eu já tenho a oportunidade de apenas relaxar e realizar o que já domino e me permitir a novas possibilidades e habilidades, de forma saudável, por que continuo me cobrando tanto e transmitindo ao meu corpo reflexos que desencadeiam a ansiedade?
Somos uma sociedade cansada, que não se libera para pausas, almeja o sucesso, mas raramente entende a hora de repor as baterias. Quando entendemos que é necessário uma pausa, não encontramos recursos que nos dê essa liberdade, vivendo assim em intensa jornada de efeitos colaterais, ora pessoais outrora encharcados de imposições territoriais do estado.
Eu ainda não encontrei uma solução para tantas vulnerabilidades emocionais que carregamos no dia a dia, mas entendo que todo mundo deveria ter direito a consulta no psicólogo e terapia, algo que fiz pela primeira vez na vida, somente nesta última sexta-feira após vivenciar uma assalto no apartamento de uma amiga.
Eu poderia apenas te dizer o quanto é fácil sentar, relaxar, tomar um belo chá e se livrar do celular, mas eu sei que não é tão simples e no meio do fogo cruzado, ainda tem a conta do final do mês pra garantir que seja paga. Mas bem, eu gostaria muito que você tivesse oportunidades de simplesmente deixar fluir e quando te derem oportunidade, não faça como eu fiz, não demore um tempo para aceitar. Apenas aproveite e relaxe!
Sim, nós podemos e devemos aceitar e criar as possibilidades de trazer ao nosso corpo e cérebro a opção de viver de forma saudável e natural, sem a necessidade de liberar hormônios de felicidade e satisfação de forma artificial.