Um dado alarmante sobre as eleições no Rio de Janeiro: cerca de 1.7 milhões de eleitores de nosso estado residem em áreas sob controle de milícias e/ou grupos paramilitares que, entre outras coisas, controlam com mão de ferro a partilha eleitoral dos “seus” territórios. É comum ouvirmos falar dessa nova versão do tradicional voto de cabresto, onde um bairro inteiro ou comunidade está “fechada” com determinado candidato. Só que, longe de ser devido a um reconhecimento ou representação política, trata-se de um voto imposto, de cima pra baixo, por aqueles que detêm o controle de territórios populares através da mediação do acesso a serviços e direitos, do medo e da intimidação.
Este processo de paramilitarização da atividade política em nosso estado não é novo. É um cenário que vem se desenhando há muitos anos, sob o olhar condescendente – quando não de cumplicidade explícita – de governantes, parlamentares e lideranças políticas. No entanto, em 2018, cerca de ⅓ do eleitorado fluminense poderá ter o seu voto arbitrado pelo controle das milícias. Trata-se de uma fratura exposta no processo democrático, com consequências diretas na eleição de governantes e parlamentares, que coloca sob risco o livre exercício do voto no estado do Rio.
A situação do Rio é semelhante a de países como Colômbia e México. São exemplos eloquentes, pois o controle institucional que o crime e a violência passou a exercer nestes países, por meio tanto do controle paramilitar dos territórios, como nos aparatos estatais e aparelhos repressivos, levaram muitos analistas e observadores a defini-los como “narcoestados”. Estaria o Rio de Janeiro se tornando um “estado de milícias”? A resposta a esta pergunta é essencial para definirmos o que é hoje a experiência democrática da população. Ao que parece, estamos diante de uma ameaça ao direito de nosso povo decidir livremente nas urnas, com consequências graves para a nossa já fragilizada democracia representativa.