Disse Nelson Sargento que Cartola não existiu, foi um sonho que a gente teve. O ministro Luis Roberto Barroso, esse invejoso, quer convencer o país que Lula também não existe, é um sonho de milhões de brasileiros que saíram da miséria. Proibiu menção, foto, vídeo, nome escrito, tudo que possa comprovar a existência do homem que há algum tempo é o pesadelo dessa gente que cospe ódio e por onde passa só enxerga raiva, desamor, amargor e solidão. Se depender de qualquer uma das pessoas nas togas escuras e pesadas como certas consciências, o samba morre sim, para tristeza maior do Nelson Sargento, apesar da Carmem Lúcia ter cantado com Alcione um samba rasgado como a Constituição de 88. Ou, quem sabe, é por isto mesmo que o samba morre como o sujeito da piada do gaúcho vigia do cemitério…conhece? Então dá licença:
O vigia do cemitério nos pampas estava em seu posto tomando o mate na cuia, alta noite, quando ouviu uma voz bem longe que gritava “Socorro! Socorro!”. Apurou o ouvido e foi atrás com sua lanterna poderosa, até ver a cena assustadora do rosto de um homem na terra, implorando: “Por favor, me ajude, eu não tô morto não!” O gauchão chegou perto, examinou a situação e meteu a bota na cara do sujeito com o argumento ditado pela experiência profissional: “Que não tá morto o que! Tu tá é mal enterrado, tchê!”
O gaúcho do cemitério é o ministro Barroso, enfrentando a realidade da maneira mais absurda e tosca que conhece. Mas não é só ele: fazem todos eles um revezamento macabro para esconder a presença incômoda do Lula na cena política nacional. E o pior é que não dá certo de jeito nenhum, o “Nine” (como prefere chamá-lo com ar jocoso o judge Murrow de Curitiba) não cabe mais no enredo que lhe traçaram, extrapolou, sobra para além das fronteiras, sobre o oceano, até a Europa que se diz civilizada e respeitadora dos direitos.
Encheram Lula de processos, condenaram e recondenaram com pena aumentada, prenderam ele isolado do mundo, proibiram visitas de solidariedade, vetaram sua candidatura, não deixaram nem ver jogo do Corinthians na TV, e agora o Barrosão chegou ao ponto da sublimação: Lula não existe, é lenda urbana e rural nordestina que se espalhou na água transposta do Velho Chico e insiste em fazer-se real como o auxílio-moradia ou os dois meses de férias do judiciário. Do jeito que aparece na campanha da direita, Lula é uma assombração, cabeça sem corpo estampada na camiseta das mulas-sem-cabeça de cujo pescoço sopram chamas de inflamar imaginações criminosas e de queimar museus.
A menos de um mês da verdade das urnas, juízes, ministros e procuradores em geral estão como os pais de uma adolescente rodrigueana que engravidou e este é um segredo guardado a sete chaves, mas que virá à luz antes do que queriam os familiares. Assim se parecem os personagens coadjuvantes da pantomima que o Brasil apresenta, entre vexado e orgulhoso, ao deleite das nações por onde Lula andou mercadejando o projeto de país grande e poderoso. Agora, de suas janelas envidraçadas esses países olham com olhos de escárnio, e pensam muito justamente onde diabos estávamos com a cabeça quando nos lançamos à aventura há 15 anos.
Diz-se em Portugal que o fogo no Museu Nacional foi obra de ladrões para esconder seu malfeito. Pode ser…ou um incêndio provocado pela extrema direita para marcar o terreno e deixar patente quem manda nessa joça. Afinal, o Louvre recebe por ano mais brasileiros do que o Museu Nacional. O Brasil, no entanto, não admite insinuações! Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa bem diferente! Por isto, apesar dos esforços em contrário, Lula voltará a existir depois das eleições, dependendo do resultado. E tenho dito!