Estivemos hoje na porta do Maracanã levando nossa humilde solidariedade para os trabalhadores operários da construção pesada, que reconstroem o maior e mais famoso estádio brasileiro. Trabalhadores que tem entrado constantemente em greves e enfrentam gigantescas corporações corruptas, governos e pelegos em busca de dignidade e reconhecimento. Aqueles operários, que são largamente conhecidos como “peões de trecho”, largam famílias às vezes em outros estados e vão buscando empregos onde aparecem. Lançam-se nas estradas brasileiras e só param onde conseguem um trabalho e quase sempre, temporários e precarizados. Suportam condições extremamente desfavoráveis fisicamente e psicologicamente para sobreviverem e guardam poucas perspectivas de grandes mudanças em suas vidas. Economizam quanto podem e moram quase que na totalidade em favelas, locais esses onde devemos prestar muita atenção. Esses milhões de brasileiros natos são nada mais nada menos que boa parte dos responsáveis pela construção de todas as riquezas desse país e inversamente a essa realidade são os mais explorados e tragicamente desvalorizados como pessoas.
Conversando bem cedo na entrada das obras com alguns deles, identificamos uma solidariedade e unidade que dificilmente vemos em outros setores, principalmente nos da classe média. A luta de cada um dentro das obras repercute até para os que, ao lado de fora, tentam uma chance de começar a batalhar também. Apesar de serem obrigados a mudar constantemente de canteiros de obras e empreiteiras, seja pelas péssimas condições de trabalho ou demissões constantes, guardam toda uma experiência e maturidade que levam para qualquer lugar. Então esses guerreiros sabem bem com quem estão lidando. Sejam as empreiteiras que arrecadam milhões e gozam de todos os privilégios do estado e dos governos fantoches ou muitos sindicatos, frágeis e voláteis, que estão mais interessados em acabar com as mobilizações e greves, do que representar a categoria e levar as lutas até as conquistas necessárias. Traições essas que infelizmente, saltaram enormemente com as sucessivas capitulações, apoios e participações desses, nos governos de Lula, Dilma e Cabral no Rio.
Os trabalhadores do Maracanã, assim com os da construção civil de Belém, Fortaleza, de Jirau, Santo Antonio, Suape ou nas obras do Estádio do Mineirão em Belo Horizonte, estão promovendo uma onda de greves que está sacudindo o país contra as humilhações, os desrespeitos e a superexploração. Devemos dedicar o mais amplo e irrestrito apoio a esses heróis e indignarmos com a situação dos operários do Maracanã, que são obrigados a trabalhar com alto risco de vida e não possuem médicos nas obras e nem planos de saúde, ficam o dia inteiro nas construções e a comida que é servida vem sempre estragada ou com larvas, trabalham numa obra onde os gastos com as empreiteiras serão astronômicos, em mais de 1 bilhão de reais enquanto recebem parcos R$ 1.180,00 de salário e possuem ainda um vale fome de apenas R$ 100,00. Se não bastasse a superexploração, ainda, estapafurdiamente, são obrigados a sofrerem humilhações e assédios morais por superiores e engenheiros.
A clareza programática que surgia em cada conversa, com cada operário, nos animava a perceber que todas as ideologias, criadas pelo Sindicato do Consorcio, de que as obras do Estádio da final da Copa do Mundo, deveriam encher de orgulho aqueles trabalhadores, vinham ao chão. Uma imbecilidade das empreiteiras pensarem que aqueles trabalhadores são tão ingênuos assim. A análise da situação econômica e política do país assim como o papel que cumpre as empreiteiras e os sindicatos pelegos mostram em alto e bom som que os operários da construção pesada do Maracanã sabem bem identificar os problemas e através das greves, dão lições de como buscar as soluções.