Você já ouviu falar de Sanaa Lathan? Ela é a atriz que desde o último dia 21 de Setembro, vem fazendo a cabeça de mulher negras internet à fora. Sanaa é a protagonista do filme “Felicidade por um fio” lançado este mês na Netflix.
Desde o primeiro anúncio, acompanhado por um trailer quase que de spoiler, que a narrativa sobre o olhar de uma mulher negra, vem sendo discutida através da trama, tendo como principal foco aparente sua relação com o seu cabelo. Nappily Ever After é muito mais do que uma comédia romântica com uma dose de drama, é a reflexão audiovisual a respeito de mulheres negras que carregam em sua história, análises muito mais profundas do que a possível escolha sobre sua estética.
Basta dar mais uma volta pela Netflix que damos de cara com outro filme, também protagonizado por Sanaa Latha. The Perfect Guy (O cara perfeito) é um olhar sobre o poder de um relacionamento tóxico/abusivo na vida de uma mulher, mesmo que essa seja mais velha e bem sucedida. Lançados em 2018 e 2015 respectivamente, deixa claro os reflexos da autocobrança que mulheres, especialmente mulheres negras se fazem diariamente, para demonstrarem o relacionamento perfeito, a vida perfeita por inteiro e incondicional, em busca desse modelo de perfeição à qualquer custo.
Arriscaria dizer que um filme aqui completa o outro, exatamente em sua cronologia de lançamento.
Mas nós quase não enxergamos ou falamos disso certo? Porque a perfeição que temos nos exigido não é a que o feminino protagonizou durante muito tempo. Pelo contrário. A perfeição imposta sobre a mulher negra, inclui ser forte o bastante, dar conta da casa, ser o símbolo de sexualidade perfeito, tentar ter um padrão estético aceitável principalmente no que diz respeito aos cabelos e agora mais do que nunca é inaceitável não ser militante ou levantar todas as bandeiras possíveis. Se der tempo também precisamos liderar tropas e se tudo der certo no final escrever um livro.
Mulheres negras foram condicionadas desde sempre à um lugar de resistência e força, quase nunca ocupando o lugar frágil que a sociedade relata sobre o feminino. Paralelamente a isso, também somos envolta em um emaranhado no que diz respeito à hiper sexualização.
O que o feminismo negro nos trouxe de mais importante foi a voz e a sororidade para não seguirmos mais um caminho solitário, mas volta e meia me questiono se não estamos enfiando o pé no acelerador em muitas questões externas e cada vez menos olhando para nossas reais necessidades pessoais.
Não basta querer salvar o mundo, quando nossa narrativa de perfeição não faz o menor sentido e nossa verdade está em chamas, sendo consumida pela perspectiva da vida perfeita.
O combo mulher linda + forte 100% + militante incondicional + boa de cama + dou conta de tudo, não faz sentido quando todo o resto está entrando em pane.
Seja sob o olhar racial, de gênero ou social é mais do que urgente perceber que nossa vida não pode estar mais ainda por um fio. Mais ainda do que as estatísticas nos declaram, mais ainda sobre o que os atuais (E talvez futuros) governantes do nosso país desejam fazer. É preciso estarmos atentas e perceber a hora de parar, para só então retomar o caminho de volta com muito mais força e propriedade para assumir o nosso lugar de forma saudável.
Já são mais de 6 meses sem resposta sobre a morte de Marielle Franco e esse ano talvez seja historicamente, o ano que mais mulheres e mais mulheres negras se candidatam a uma posição na política. É o momento de entendermos que nós somos nosso projeto mais urgente e que a única perfeição aceitável (se é que isso é possível ser perfeito) seja nossa estabilidade emocional. Essa também é tática de guerra e estratégica para seguir com mais força do que nunca diante das ameaças diárias de um país, feito totalmente contra nós.