No mês de celebração ao Dia do Idoso, uma reflexão sobre os direitos e o futuro dessa população
No dia 1º de outubro é celebrado o Dia Internacional do Idoso. A data foi implementada como uma forma de dar visibilidade a direitos e necessidade das pessoas com 60 anos ou mais, período também conhecido como a ‘melhor idade’. Infelizmente, ainda não há muito para comemorar e existem muitos problemas a serem resolvidos para que os idosos, de fato, possam aproveitar o melhor da faixa etária.
O Brasil possui mais de 30 milhões de idosos, o que equivale a 9,2% da população, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad) realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e divulgada em 2018. E a estimativa é que o crescimento dessa população continue.
A projeção é que em 2039 haja mais pessoas idosas que crianças no país. Em 2060 essa taxa deverá ser de 25,5%, o que significa que 1 em cada 4 brasileiros será idoso. Pensando nessa população que só cresce, o Estatuto do Idoso, foi instaurado em 2003 para regularos direitos desses cidadãos.
O estatuto abrange direitos fundamentais à pessoa humana, como a participação na sociedade, preservação da saúde física e mental, além de condições de liberdade e dignidade e aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social.
“É obrigação do Estado e da sociedade, assegurar à pessoa idosa a liberdade, o respeito e a dignidade, como pessoa humana e sujeito de direitos civis, políticos, individuais e sociais, garantidos na Constituição e nas leis”.
(Capítulo II, Art. 10)
No entanto, ainda sofrem com descasos em atendimentos médicos, maus tratos físicos e psicológicos e, muitas vezes, abandono de familiares.
Albertina Araújo, 85 anos, moradora de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, conhece bem a realidade de desrespeito aos idosos na sociedade. Ela afirma que inúmeras vezes perdeu o ônibus porque o motorista não parou a seu sinal, o que não se repete caso tenha jovens no ponto. “Gosto de ficar perto de pessoas mais novas no ponto do ônibus porque o motorista sempre para. Às vezes até peço para outra pessoa fazer o sinal para eu entrar. Se estou sozinha, a chance de não embarcar é grande”, relata.
É uma queixa comum entre idosos de que muitos motoristas de transportes públicos se recusam a realizar paradas para passageiros idosos por representarem a gratuidade, ou seja, não representam lucro para a empresa. Esse ato fere diretamente o direito ao acesso aos meios de transporte do cidadão idoso e pode gerar pena de 6 meses a 1 ano de reclusão e multa.
Uma vez dentro de um transporte público, o desafio muda: encontrar um lugar para sentar. Na maioria das vezes, idosos têm seu direito aos bancos reservados ignorados pelos outros passageiros.
A existência de uma lei que protege idosos já é um primeiro passo para que tenham seus direitos respeitados em todos os lugares. O segundo é que a lei seja respeitada, irregularidades sejam denunciadas e haja a fiscalização.
Mudanças para o futuro
Mas se por um lado ainda há muita coisa a ser mudada no comportamento da sociedade, também há muito que já está em transformação. A consciência dos próprios idosos em relação a seus direitos e sua qualidade de vida vem sendo ampliada e um dos reflexos disso é o aumento da preocupação com o bem-estar.
O estereótipo do idoso que não sai de casa e possui dificuldades de locomoção vem lentamente enfraquecendo, mas já mostra sinais de mudança. Grupos para a prática de exercícios em conjunto são cada vez mais frequentes de serem vistos e, além de melhorar o condicionamento por meio de atividades físicas, também reforça as interações sociais.
Maria do Carmo Costa Pinheiro, de 83 anos, faz parte de um novo perfil de idosos que veem nas atividades físicas uma maneira de se manter saudável. A lógica é investir na prevenção de doenças e diminuir os gastos com medicamentos. “Antes eu sentia dores por todo o corpo, principalmente depois que peguei dengue. Não conseguia levantar direito, nem mesmo pentear o cabelo. Hoje eu tenho disposição e posso dizer que estou boa”, declara.
O professor de educação física Rodrigo Baptista trabalha com a saúde dos idosos há 11 anos e afirma que os benefícios vão muito além da saúde física. “Melhora a aptidão física e qualidade de vida. Além da capacidade de realizar as atividades diárias de forma independente, como tomar banho e ir ao supermercado. Quando o idoso participa de um programa de atividade física, principalmente em aulas coletivas, observo a construção de laços de amizade, permitindo assim a socialização. Melhora a sua autoestima”, afirma.
De acordo com Baptista movimentar o corpo de 3 a 4 vezes na semana “reduz os riscos de desenvolver doenças associadas ao sedentarismo, como o diabetes, a hipertensão e a obesidade”, diz.
Outro ponto positivo dos cuidados preventivos com a saúde na terceira idade é a redução de gastos financeiros com medicamentosa. “O idoso sedentário tem seus níveis de força reduzido e com esse quadro se tornam idosos mais frágeis e com maiores riscos de quedas, que é uma das principais causas de mortalidade em idosos”, finaliza Baptista.