O poder da mentira

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Futuro e passado indefinido: a ameaça das Fake News na construção do imaginário político-social.

O resultado é imprevisível. Durante o período eleitoral, a insatisfação e a descrença na política brasileira estiveram presentes em diversos discursos populares veiculados na mídia hegemônica. A divulgação de casos de corrupção, de esquemas, de favorecimentos  empresariais e de superfaturamento em obras públicas parece ter desmotivado o eleitor, o que dificulta o estabelecimento de uma perspectiva para domingo. Entretanto, um dos fatores que mais movimenta os meios sociais e pode determinar os rumos das Eleições desse ano é o perigoso fenômeno das ‘fake news’.

O termo, em inglês, trata de boatos que, sob o aspecto de notícias reais, ganham
notoriedade e reconhecimento pelos seus leitores. Seja por desconhecimento, seja por
motivos intencionais, o compartilhamento de ‘fake news’ é, hoje, um dos maiores
desafios para a efetiva distribuição de informações verídicas a sociedade. Dessa
maneira, falsas pautas podem influenciar, ou ainda, definir o voto de muitos cidadãos.

Além disso, as “fake news” podem provocar uma ressignificação do passado e
do presente. Ao encontrar falsas afirmações, a percepção de um indivíduo sobre um fato demonstra-se afetada, o que pode fornecer uma visão deturpada daquilo que se vivencia.
Em tempos de eleição, em que a honra e a imagem dos candidatos são cruciais para suas candidaturas, a replicação de boatos revela-se uma postura danosa ao direito do outro.

Márcio Gonçalves, jornalista e professor universitário doutorado em Ciência da
Informação, prefere chamar o termo “fake news” de desinformação. Dessa forma, “uma
sociedade não-letrada digitalmente e midiaticamente” seria a mais prejudicada por esse
fenômeno. “Um sistema democrático não sofre ameaça quando há muita desinformação
uma vez que os cidadãos podem expor opiniões e contrastá-las. Cabe o discernimento
do indivíduo neste momento em que muitas pessoas produzem conteúdo falso como se
fosse verdadeiro” – afirma o doutor.

De fato, hoje, faz-se necessário um monitoramento cuidadoso das notícias veiculadas. Nesta semana, espalhou-se em aplicativos de mensagem, um suposto pedido do ex-presidente Lula para que eleitores do Partido dos Trabalhadores (PT) só fossem às urnas na segunda-feira, dia 8. Embora tenha sido desmentido hoje, 3 de Outubro, pelo Projeto ComProva, não é possível afirmar com segurança que os danos foram corrigidos.

Para o professor Márcio, existem estratégias para desmascarar as “fake news”: questionar a URL do site, atestando sua credibilidade, investigar a presença do tema em voga na grande imprensa, além de atentar-se à presença de erros gramaticais, são algumas delas. Ele também declara quais grupos são mais propensos a compartilhar boatos: “Quem não compreende e reflete sobre os temas é quem mais contribui para a disseminação de notícias falsas”.

Assim, a questão do compartilhamento de notícias apresenta-se como assunto de interesse para toda a sociedade. Não só pela defesa de sua honra, de sua memória, ou ainda, de seu presente. Mas também pela defesa de seu futuro. Pois, como atesta Márcio Gonçalves, “do cidadão comum, que paga os impostos e vive em busca de uma vida plena e digna, aos políticos, aos profissionais liberais, às crianças sem amparo dos adultos, todo esse público é atingido por esses vírus sociais encapsulados por informação”.

ANF :   Como as “fake news” ameaçam a democracia brasileira nesse momento de eleições? 

MG: Prefiro chamar o termo “fake news” de desinformação. Neste sentido, um sistema democrático não sofre ameaça quando há muita desinformação uma vez que os cidadãos podem expor opiniões e contrastá-las. Cabe o discernimento do indivíduo neste momento em que muitas pessoas produzem conteúdo falso como se fosse verdadeiro. Quem não compreende e reflete sobre os temas é quem mais contribui para a disseminação de notícias falsas.

ANF:   Por que existe tanta aderência aos boatos no Brasil? Quais seriam os principais elementos que dão ‘credibilidade’ às “fake news”?

 MG: Uma sociedade não-letrada digitalmente e midiaticamente é a mais atingida pela desinformação. O boato é parte da comunicação humana quando há ruído na comunicação. Em tempos de facilidade na remixagem de conteúdo, está aí um elemento que contribui para a desinformação, os boatos, os embustes e as armadilhas.

ANF: Em sua concepção, qual (ou quem) seria o maior prejudicado pela massiva veiculação dessas ‘fake news’?

MG: Do cidadão comum, que paga os impostos e vive em busca de uma vida plena e digna, aos políticos, aos profissionais liberais, às crianças sem amparo dos adultos, todo esse público é atingido por esses vírus sociais encapsulados por informação.

ANF :Quais são as principais estratégias que os cidadãos podem se utilizar para combater o grande volume de boatos veiculados?

MG: É preciso questionar a URL do site que se lê a notícia: é conhecida? tem credibilidade? Necessário saber se é um assunto que está sendo tratado, também, na grande imprensa. Importante desconfiar do texto e perceber se há falhas de português.