Os véus da opressão que sempre sofremos foram levados pelos ventos da intolerância; hoje a gente encara a verdadeira face do machismo, falocentrismo e racismo que essa classe média masculina megalomaníaca pôde se dar o luxo de expor.
Desde o registro oficial da eleição daquele que não devemos nomear, tenho flutuado em mares de angústia; às vezes de águas quentes de fúria, ódio e revolta, às vezes frias de tristeza, desolamento e medo; mas sobretudo, fico submerso numa massa sem calor, sufocante, niilista; de falta de esperança, de vontade de não ser. É inevitável, um verdadeiro luto. É como se um desastre natural, uma grande enchente, um tsunami, ou furacão, ameaçasse destruir todos os bens materiais que meus pais, a duras penas, suaram tanto e até deram do próprio sangue para proporcionar pra mim e minhas irmãs o mínimo de conforto que eles não tiveram quando eram jovens.
Mas apesar dos mares e dos males que me submergem, eu sei que o chão que os meus predecessores construíram o ninho no qual eu cresci vai continuar intacto, e eu e minhas irmãs, se necessário, transmutaremos as ruínas de nosso antigo lar num outro, de paredes mais grossas e resistentes, mais belo e forte, impávido, colosso.
Transformemos nosso luto em luta; eles já subiram antes nesse pedestal, e caíram, e cairão novamente; não permitiremos nenhum direito à menos. Resistimos e resistiremos.
