“O fim do mundo é o fim de nosso mundo; – é o nosso mundo que está acabando”(Leandro Karnal)
Sabe a sensação de impotência e deslocamento que causa mal estar? – Você já sentiu? – Eu também. Deixa-me contar como foi.
Dias atrás corri para pegar o metrô no Rio de Janeiro, cidade onde nasci e ainda resido; – o fato se deu na estação de Tomás Coelho, um bairro do subúrbio carioca. Mas a localidade é o que menos importa, pois poderia ter sido em Pequim, Nova Délhi, Lisboa ou Buenos Aires. Acontece que por volta das 15 horas de um dia qualquer da semana passada eu me dirigi até a bilheteria, com uma nota de dinheiro na mão, o suficiente para pagar minha passagem e ainda sobrar troco, quando me deparei com a total ausência de pessoas na bilheteria; – não havia atendentes. Como também não havia ninguém, nem mesmo passageiros; – uma espécie de estação fantasma. A sensação de desumanização nos setores públicos realmente não era algo para qual minha unidade orgânica de carbono fora condicionada pela natureza. O deslocamento. O vazio existencial. O desconforto por estar sendo observado por olhos artificiais das câmeras de vigilância. – Todas essas sensações me foram arrebatadoras. Eu realmente paralisei de uma forma escatológica, diante de um possível apocalipse que se iniciou e até então não havia me dado conta; ” – Cadê os atendentes? ” – me perguntava indo de bilheteria em bilheteria, com seus vidros fumês e tão funestos, com as placas de “fechado”. Alguém que me observava pelo “Big Brother” veio em meu auxílio; – sua particular função é a de dar suporte à pessoas feito eu: – número de série ultrapassado, resquícios românticos da velha humanidade, tipos obsoletos a serem substituídos porque o novo sistema tem pressa. E também detesta uma geração antes.
A pessoa com essa função, uma jovem moça, me explicou que eu teria que me dirigir à máquina e ali efetuar a transação; – minhas relações de compra e venda, agora, se dão com uma máquina! – E por favor, me diga que isso não é um episódio de *BLACK MIRROR*; – que a máquina não está substituindo as pessoas. Como não sentir mal estar? – Como não dizer que o fim do mundo chegou, pelo menos pra mim – e pra todos os que nasceram antes da década de 1990?
A maquina estava lá, com tout. – Recebeu meu dinheiro, deu-me o troco, e ainda me pediu para avalia-la. Uma caixa azul, diante de mim, com uma tela de computador, pedindo-me para dizer se tinha gostado do atendimento. Sendo que não há possibilidades de diálogos; – O diálogo é o princípio da humanidade, já alardeava Buber. As respostas são padronizadas entre *SIM* e *NÃO* – não há espaço para as infinitas possibilidades humanas. Não nesse *novo sistema algorítmico*.
Enfim, passei na catraca eletrônica – ela estava lá desde sempre já demarcando o território artificial -, desci a escada e embarquei na composição, imaginando a função daquela jovem – uma função com dias contados, já que o público de minha faixa etária vai morrer em breve. Aliás, o emprego do condutor também. E desse homem que lê o livro diante de mim, e dessa mulher que segura a bolsa contra o peito, e até o vendedor ambulante que dribla a fiscalização pra vender seu chocolate kit kat, ou kits tecnológicos para o celular. – Até eles, não fugirão da vigilância.
Pois é, – o fim do mundo chegou. Pra nós. E não veremos o que virá.