Quando acabou a primeira prova do Exame Nacional do Ensino Médio no último domingo, 4 de novembro, os comentários nas redes sociais eram parabenizando o ENEM por continuar sendo transgressor apesar do contexto político. A prova conseguiu trabalhar temas que são polêmicos e para isso usou autores, pensadores, políticos e militantes renomados como Rosa Park, George Orwell e Martin Luther King, entre outros. Porém, o que precisamos pensar é quantos alunos que fizeram a prova tiveram a oportunidade de ler e aprender sobre esses autores. Até que ponto essa prova passa de transgressora para excludente?
Quando essas pessoas são abordadas, os vestibulandos que não tiveram a oportunidade de estudar em uma escola que dê essa bagagem já sai em desvantagem. Os alunos que já estão na frente por terem todas as condições favoráveis para ir bem nessa prova como um local silencioso para estudar, não precisarem trabalhar para ajudar em casa, não terem suas aulas canceladas por tiroteios ou por greves de professores ou funcionários, ficam mais a frente ainda.
O tema da redação desse ano também foi um exemplo dessa exclusão. O tema que foi a “manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet” apesar de ser importante, desconsidera que nem todos os vestibulandos do Brasil tem acesso à internet em casa. Assim, o tema que já não é simples se torna mais difícil ainda e desleal com essas pessoas.
O Exame Nacional do Ensino Médio é hoje a prova mais importante para ingressar em uma universidade. Tratar desses temas e autores, é muito necessário e importante, porém para isso precisamos que o ensino no ensino médio dê essa bagagem aos estudantes. É preciso pensar que essa é a mesma prova aplicada para os estudantes de todos os estados do Brasil, de todas as classes sociais e de todas as etnias, é necessário montar uma prova que seja mais justa para todas essas pessoas.