Imperecível reflexão

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Hoje sorrio com o amargor de um rio poluído.
Ultimamente tenho me sentido sozinho como um quarto vazio.
Tô embrulhado como um presente caro que o dono deu de ombros.
Sou números que nem se chegam, pois se cansam.
Sou pontes quebradas, sem tráfegos, estrada largada,
Sou retas ensolaradas com visões de miragem,
não me procure, me ache, uma agulha no palheiro,
Parece impossível, mas estou por cima é que ninguém tentou procurar ainda,
Mais uma das ilha do arquipélago das Filipinas.
Uma casa sem número de uma rua sem saída,
Um talher no sentido oposto as facas,
O amanhecer de um fazendeiro faltando uma vaca,
Sou a falta de dois reais no troco,
Uma parede, que depois do buraco tá oco,
Um cocô sem água,
Um vaso com coco,
Adubo de algumas flores,
O veneno de algumas serpente,
Um leão sem dentes,
Um motorista imprudente,
Uma poltrona sozinha que deixa saudades para os parentes,
Um sorriso de canto,
Uma voz sem canto,
Uma peça sem encanto,
Uma torneira em prantos,
Um desperdício aos humanos,
A formiga diabética,
Uma grande cidade que por 3 dias ficou sem energia elétrica,
O empregado que no primeiro dia pegou um serviço de 3 anos largado,
O bêbado do bar que o dono já não aguenta mais vê chorar,
O paciente que a psicóloga mandou voltar diariamente,
O mecânico sem ferramentas,
Um porteiro que depois de 35 anos tirou o bigode,
Uma ferida aberta de uma coça de comigo ninguém pode,
O Layout sem propaganda,
Síndrome de Estocolmo,
Pelo vazio que era momentâneo,
Lamento vaporoso de solidão sólida em noites liquidas.
Maturidade ímpar de manhã iguais em subtração de sentimentos,
Tormentos pares de piscinas rasas sem galãs,
sem rezas de um cofre sem moedas.
Notícias tristes de um repórter alienígena,
que salva vidas e ganha propina.
Ruas e esquinas, curvas e melanina,
Mulheres virando meninas e minas deitadas,
a baixa de uma respiração ofegante e fria.
Peregrinos, sabotagens, homenagens, malandragens,
Quem não suporta, bate na porta,
quem abre a porta, suspende a visita e mostra outra vida .
Um horizonte, outro universo, união de fins de tardes com versões,
Um dia sem verbo, sem preocupação de um século, sem Dorflex,
Usando látex, sem goteira no telhado, fala que não achou mesmo sem ter procurado, sem espinhas ou cravos, um rosto de pêssego mordido, uma parede com interruptor do ventilado invertido, um filho sem abrigo materno, na guerra não se usa chinelo, sem regras, sem terno, sem hora mas querendo acordar sem tiro.
Um tio querendo um sobrinho, um menino de rua querendo um sobradinho, a sobra de uns a ganância de outros, sem pesadelos com rostos, sem paredes com forros, sentindo a quentura do forno, as papilas recuam com gosto, sem coberta pro sono e de baixo do sol tá usando casaco, muro de vidros com cacos, sangue nos ralos, ratos canibais, ursos polares num país tropical, universal engordando, lamentando pobreza, riqueza ostentando e aplaudido por pobres.
Sem causa nobre, nobreza bebe o caldo negro apregoando a venda de escravos, correntes disfarçadas como máscaras Black face, burgueses Black Blocs se manifestando eliminando os índios, podaram nossas asas de Ícaro, abaixaram o machado de xangô, afundaram a coroa de Cristo em nossas cabeças e rasgaram o canto da boca do palhaço depressivo para está sempre sorrindo.
Trivialidade, assassinato sem ressurreição, ato pagão, mistério por obrigação, sobrou só o tormento do silêncio para imperecível reflexão !!

Victor Tavares, câmbio desligo !!!