Vidigal, Ô Vidigal…
É a primeira vez que piso aqui.
Só sabia da tua vista por novela e foto.
Que parada linda, fico de pista quando vejo a praia com os teus olhos…
Como manda o figurino, chego de mototáxi na 25, e logo estou na casa de Tereza.
Deixa eu melhorar: Terezinha Clementina de Souza.
Espera que fica melhor ainda: Dona Teca.
Moças e rapazes, são 44 anos de Vidigal, e ela diz que não sai de lá por nada.
Criou suas 5 crianças por lá mesmo, uma festa; mas também sofreu com a perda, uma cria voltou mais cedo pro colo de Papai do Céu.
Perdas… Coisa difícil pra nós, seres humanos. Só o tempo lava o que dói no coração.
Doeu muito perder a vista e uma perna, Teca chorou e sofreu.
A vida que há pouco tempo era ativa, trabalhando em casa de família, teve que mudar.
Viu-se dependente de todos para praticamente tudo.
Mesmo com todo amor que tem pelo seu lugar, ela diz que não é nada fácil subir o morro e desenhar as vielas, muito menos na cadeira de rodas.
Deu puxão de orelha, mas com carinho, carinho de quem sabe que o tempo trará boas novas e as dificuldades vão passar.
Vejo a imagem de Jesus em sua sala e percebo que ali é um centro de força.
Ali mora a sua resiliência do dia a dia, a sua abnegação e a sua fé.
O susto que a diabetes lhe deu foi grande, mas seu amor pela vida foi muito maior.
Não entregou os pontos e sabe que não é a única.
Diz que as deficiências surgiram como um alerta que a fez olhar para todos que passam pelas mesmas situações, e às vezes, muito piores.
Ela levanta as mãos para o céu agradecendo todo desconto ou gratuidade que teve quando foi buscar seus remédios.
E me faz rir muito quando conta de um ovo mal feito no hospital, mais aguado que sopa de letrinha.
Me conta que aos 13 anos foi ao cinema pela primeira vez com um namorado, mas que não curtiu essa de ver gente na tela.
O lance dela sempre foi a rádio, as notícias e os mistérios das novelas eram maiores para imaginação levantar voo.
Disse que só gostava de sair para comer, principalmente doce, eu rio; e com um tom de tranquilidade e ironia, me diz: “por isso fiquei assim, né meu filho…”
Já é final de tarde e sinto que está acabando aquele universo de histórias, mas alguém chega da escola e abre meu sorriso.
Ela fala que ele é uma espoletinha e só tem 4 anos. Seu neto.
O fruto do fruto tem os olhos de Dona Teca.
Ali, só vejo alegria e amor.