Militarização das favelas do Rio leva ao domínio de facções criminosas cariocas nas favelas capixabas.
A disputa pelos pontos de venda de drogas nas favelas da região metropolitana de Vitória e do litoral sul do estado está sendo travada entre duas conhecidas facções criminosas do Rio de Janeiro.
O número de prisões por tráfico de drogas tem dobrado a cada ano, em proporção direta com as ações militares nas favelas cariocas.
Com uma topologia semelhante à do Rio, as favelas capixabas tem se tornado refúgio adequado para bandidos cariocas que perderam o domínio em suas favelas de origem devido ao processo de militarização. Em Vitória, a mesma facção criminosa que controla a favela da Rocinha, em São Conrado, na zona sul carioca, atua no morro da Garrafa. Em Cariacica, na região conhecida como Grande Vitória, em localidades como Vila Merlo, morros da Escadinha e da Mariazinha, Duas Bocas, São Geraldo, Boca do Mato, Buraco do Sapo, Flexal 1 e 2 e Itacibá, percebe-se a presença da sigla com as iniciais do nome da facção.
Já o grupo cuja base era o complexo de favelas do Alemão, na zona norte do Rio, é identificado no bairro da Penha e no morro do Jaburu, na capital capixaba. A sigla também é verificada em comunidades do município litorâneo de Vila Velha, como llha dos Bentos, Cobilândia e Jardim Marilândia, além de Parque Laranjeiras, na cidade de Serra.
Já faz tempo que estas siglas podem ser encontradas marcando território nas favelas do Espírito Santo, de acordo com uma tendência capixaba, qual seria imitar os cariocas. No entanto, o número crescente de prisões, o aumento da quantidade de apreensões de armas e drogas, e a presença constante de criminosos cariocas que passam suas “férias” no litoral capixaba, demonstram que a coisa é mais séria que uma simples imitação. Prova disso foi a prisão do traficante carioca Júnior Calcinha, em Guarapari, comandante da venda drogas na favela parque Arará, Benfica, Zona Norte do Rio.
Em julho de 2009 a polícia capixaba efetuou a prisão de um criminoso conhecido como Cabeção, em Vila Velha. Segundo policiais, ele tinha relações com traficantes da facção criminosa que controla a Rocinha e estava encarregado de organizar o grupo no Espírito Santo.
Embora os traficantes do Espírito Santo, não tenham o mesmo poder de fogo dos cariocas, as medidas de combate ao Estado estão sendo importadas. A exemplo do que já ocorreu tanto no Rio como em São Paulo, criminosos capixabas estão também adotando medidas terroristas como os seis ônibus que foram incendiados em 2007 na região metropolitana do Espírito Santo. As ordens teriam partindo de dentro dos presídios, e visavam pressionar o governo a melhorar as precárias condições do sistema penitenciário capixaba.
Tendo em vista que as drogas que entram no estado partem predominantemente do Rio de Janeiro, não é de surpreender que a ligação entre os dois estados vizinhos se fortaleça após o processo de militarização das favelas cariocas.
Como demonstram os dados do ISP (Instituto de Segurança Pública), responsável pelas estatísticas das ocorrências de crimes no Rio de Janeiro, o processo de militarização está aumentando o índice de crimes comuns em regiões antes dominadas pelo tráfico. A comunidade do Salgueiro, na Tijuca, zona norte do Rio, teve a maior taxa no primeiro semestre: foram 16,8 roubos e furtos por mil habitantes (84 casos ao todo). O índice supera a média de toda capital fluminense (13 registros por mil habitantes) no mesmo período. Do mesmo modo, começam a ocorrer assaltos a bancos no interior do país com a curiosa presença de armas de grosso calibre em regiões que nunca presenciaram esse tipo de ação criminosa com tais tipos de armamentos.
Assim também, na busca de novas alternativas, criminosos banidos de seu território podem encontrar porto seguro para perpetuação de suas atividades em lugares como as favelas capixabas, onde a presença do estado é pouca ou quase nenhuma, e onde os guetos e invasões são coisas comuns. O ambiente é propício para que quadrilhas enfraquecidas voltem a se fortalecer, num estado onde a polícia é fraca, o governo é corrupto, o dinheiro é muito, pertence a poucos e a população é grande consumidora de entorpecentes.
A Grande Vitória apresenta um dos maiores índices de criminalidade infantil do país. A presença de uma estrutura criminosa organizada que alicia estes jovens talvez não venha a ser a melhor oportunidade que estas crianças terão num estado onde o governo é tão ou mais omisso do que tem sido o governo carioca nos últimos anos?
Talvez devêssemos esperar Vitória sediar as Olimpíadas de 2040, e assim, militarizando as favelas capixabas, quem sabe os bandidos não se mudam pra Bahia ou Minas Gerais. E no futuro, quando o nordeste sediar um evento dessa magnitude, enfim nos livraremos de vez do tráfico expulsando-o para a Guiana.